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Cidades

Brasília sexagenária: Catetinho foi símbolo da construção da nova capital

Símbolo de que era possível construir uma nova capital no centro do Planalto selvagem, Catetinho acumula mais de 60 anos de história rica

Correio Braziliense
postado em 09/02/2020 06:00
Atualmente, a istração do Catetinho trabalha para se aproximar mais do público brasiliense. Turistas de fora são visitas constantesO símbolo de que tudo era possível. Um palácio construído de madeira, às pressas, um projeto que surgiu de uma conversa entre amigos em uma mesa do bar, uma obra de 10 dias de duração. O Catetinho, reunindo todas essas características, marcava o início da nova capital.

O famoso palácio de tábuas nasceu da vontade do então presidente de ter um local para pernoitar e acompanhar a construção de Brasília de perto, enquanto as obras do Palácio da Alvorada não eram concluídas. O desejo de JK foi expressado em uma visita à nova capital, em 2 de outubro de 1956, segundo o historiador do Arquivo Público do DF Elias Manoel Silva. Juscelino estava acompanhado de diversas personalidades, entre elas, Oscar Niemeyer.

Na volta, a residência provisória foi assunto de uma conversa entre amigos no Juca’s Bar, um bar famoso no Rio de Janeiro, que ficava dentro do hotel Ambassador, construído pelo engenheiro José Ferreira de Castro Chaves, conhecido como Juca Chaves. A conversa foi registrada em uma entrevista de Juca ao Programa de História Oral do Arquivo Público do Distrito Federal. “O João Milton Prater (piloto) e o Oscar Niemeyer foram lá, ao Juca’s Bar, já com a ideia possível de se fazer uma casa. Sabendo da minha vivência com obras, construção (...), foram lá e me disseram: ‘Oh, nós estamos com um problema aí. Juscelino quer fazer uma casa lá em Brasília, você acha que dá" />

Fatos como esse inspiraram Luiz a escrever o livro A bailarina empoeirada, que apresenta a história da capital por meio de relatos de pessoas comuns, que foram essenciais para o sucesso dos planejamentos de Juscelino Kubitschek. “Percebi que muita da nossa história é contada pela versão oficial. Então, o termo ‘bailarina empoeirada’ é um eufemismo para retratar a população que veio para cá, tomou poeira e não fazia parte dos relatos”, explica. As pesquisas de Luiz mostraram ainda que o palácio de tábuas representava a força do plano de construção de Brasília, que enfrentava ataques constantes.

“O Catetinho foi colocado de pé muito rapidamente porque, se não fosse assim, não daria para construir nada. A pressa do Juscelino era muito justificável. Ele enfrentava uma oposição muito severa, que considerava a nova capital um delírio. As resistências à mudança eram muito grandes”, lembra. Por isso, o escritor também ressalta que o atual museu é cercado de simbolismo. “Quem visita o Catetinho pode ver como se constrói uma nação nova, como que um sonho pode mudar a vida. Sem sonhar, ninguém vai a lugar nenhum. Estamos vivendo uma época em que a utopia está sendo criticada. Mas, com ela, se muda o mundo”, diz.

ado e presente

Um museu diferente. Lembrando o ado rico, é assim que Artani Granjeiro começa a explicar o presente do Catetinho. Gerente do espaço há um ano, ela conta que a tarefa de definir o local é difícil, porque cada pessoa tem um sentimento distinto ao entrar na antiga moradia de JK. “Para cada um, ela é algo diferente. Recebemos recentemente uma senhora de 89 anos. Ela estava maravilhada. Perguntei do que ela havia mais gostado, ela disse que era ‘estar aqui’. Ou seja, para ela, bastava estar presente. Museu é isso, um lugar a que a gente vai e depois sai diferente. Não importa como, mas diferente, renovando a percepção”, reflete.

Artani descreve com carinho a estrutura do espaço. “Temos uma ambiência de 1956 que faz aquele resgate do mobiliário, dos objetos, além desse clima de casa de fazenda. Também estamos em uma área de proteção ambiental. Temos um cerrado preservado, uma mata de galeria, área com uma nascente. Isso faz parte da história de todos, não só de Brasília, mas da nossa nação. Por isso, as pessoas sempre ficam muito emotivas quando visitam”, detalha. Além do resgate histórico que possibilita aprendizados, o Catetinho é um ponto privilegiado de Brasília para uma tarde de paz.

Cercado de verde, o ponto turístico é frequentemente utilizado para piqueniques, brincadeiras ao ar livre ou até mesmo para contemplação. “Há um clima de tranquilidade. Às vezes, as pessoas vêm só para ficar no banco de madeira, aproveitando o dia. Alguns falam que é um lugar para se energizar. Até para mim é especial. A gente trabalha ouvindo os arinhos, nós estamos em uma reunião e a um tatu. Isso tudo é prazeroso demais”, conta. Uma trilha natural também permite o o à Casa Velha, outro espaço histórico.

Atendendo aos pedidos de brasilienses que consideravam o Catetinho um ponto muito distante e pouco atrativo, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal providenciou mudanças recentes. Em conjunto com o Departamento de Estradas de Rodagem (DER), por exemplo, foi feita uma nova via de o ao centro, por dentro do Brasília Country Club, encurtando o trajeto em cerca de 7km. Segundo Artani, o movimento de visitantes no ano ado cresceu 34% em relação a 2018, e a meta é intensificar. “Temos oito projetos selecionados para ações culturais no Catetinho em 2020. Teremos teatros, shows, exposições, oficinas. Tudo isso já foi aprovado e vamos começar a divulgação”, adianta.

Visitação

Terça a domingo das 9h às 17h

Aviões

A Casa Velha é a antiga sede da Fazenda Gama. A residência, atualmente com mais de 150 anos, servia de apoio para o Catetinho e teve grande participação na história da construção do Palácio de Tábuas. “Foi um dos primeiros lugares visitados pelo JK e depois serviu como uma espécie de aeroporto. Ali, ainda funcionou um radioamador que controlava os pousos dos aviões. Virou um centro de comunicação na época”, afirma o arquiteto João Luiz Batelli, que trabalhou na restauração do espaço. A casa centenária fica a menos de 1km do Catetinho e hoje está aberta à visitação.

Água de beber

» Além da nova capital, o Catetinho ainda foi palco do nascimento de duas obras clássicas da MPB. Tom Jobim e Vinicius de Moraes ficaram hospedados no Palácio de Tábuas durante 10 dias, em 1960, a convite de JK, para compor a Sinfonia da Alvorada. Durante a estadia, um diálogo com trabalhadores do local rendeu ainda a icônica Água de beber.

» Conta a história popular que quem transitava pelo espaço tinha muito apreço pela bica d’água que ficava atrás do Catetinho. Certo dia, um vigia disse a Tom: “É aqui que tem água de beber, camará”, dando origem à música que diz ainda: “A minha casa vive aberta / Abri todas as portas do coração”. No livro Samba falado, Vinicius de Moraes explicou que o espaço do Catetinho fica “junto a um capão de mato onde brota um lindo olho d’água”.

» O livro revela também que a Sinfonia da Alvorada nasceu com a concepção de uma bela festa cultural. “A ideia não era nova. Cerca de dois anos e meio antes, Oscar Niemeyer me falara do assunto, e sonhamos juntos a possibilidade de criar um espetáculo ‘Som e luz’ para Brasília, à maneira dos que se fazem na França, em Versailles, Fontainebleau e outros castelos”. 

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  • Foto: Arquivo/Arquivo Publico do DF
  • Foto: Vinicius Cardoso Vieira/CB/D.A Press
  • um jardim
    um jardim Foto: Vinicius Cardoso Vieira/CB/D.A Press

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