Ana Barbosa Pinto, 56 anos, ou pelas duas unidades de saúde na última semana, com sintomas de covid-19. No entanto, a declaração de óbito dela aponta que a morte ocorreu devido a um quadro cerebral. Segundo familiares, Ana teria recebido a injeção de um medicamento na coxa, e isso teria provocado a redução do fluxo sanguíneo no cérebro, bem como um edema no órgão e acúmulo de ar na cavidade intracraniana.
A família registrou em áudio o momento em que três profissionais do HRSM anunciaram a morte da paciente. Na gravação, um médico ite que o fato resultou de um erro no procedimento, devido a informações que teriam sido prestadas de forma incorreta.
O caso também gerou indignação por parte dos parentes de Ana pela diferença nos resultados de exames para detecção do novo coronavírus e pela suspeita de desligamento dos aparelhos — em decorrência de morte cerebral — sem aviso aos familiares. O corpo da paciente foi encaminhado ao Instituto de Medicina Legal (IML) para exames periciais, e a 33ª Delegacia de Polícia (Santa Maria) apura o caso.
Transferências 643p1n
Em 29 de maio, Ana foi levada para um hospital municipal de Valparaíso (GO), onde morava, com sintomas respiratórios havia quatro dias, bem como glicemia e pressão altas. Isolada em uma sala para pessoas com covid-19, ela fez o exame PCR, para detecção do novo coronavírus, cujo resultado deu negativo. Mesmo assim, devido ao quadro, a paciente foi transferida para o Hospital Regional da Asa Norte (Hran).
Após a segunda vez, Ana não acordou mais. “O médico disse que teria de fazer outra tomografia, pois suspeitava de uma lesão no cérebro. Ele perguntou se ela tinha sofrido algum acidente, e eu disse que não. No dia seguinte, ligaram me pedindo para ir ao hospital para conversar. Percebi que minha mãe tinha morrido”, disse Getúlio.
“Um médico, uma psicóloga e uma outra mulher, que não sei se era médica ou enfermeira, falaram que, quando minha mãe foi transferida do Hran, aplicaram uma injeção na coxa dela. E essa injeção foi errada. Deu uma bolha, que subiu para o cérebro. O médico disse que foi um erro e, quando perceberam, o cérebro dela tinha parado”, completou o filho de Ana. “No fim, a psicóloga pediu desculpas e nos disse para procurar nossos direitos.”
Apuração 465b43
Ana morava no Jardim Céu Azul, em Valparaíso — a 37 quilômetros do centro de Brasília —, com o marido, de 69 anos, uma filha e uma neta. Alguns dias antes de Ana ser levada para o hospital municipal, a mãe dela paciente veio da Bahia para cuidar da filha. A família espera que a Justiça possa resolver o caso. “Se nossa mãe viesse a morrer, esperávamos que fosse por uma questão respiratória, ou por diabetes, pressão alta. Mas a causa foi cerebral. Temos muitas provas de que houve um crime. Foi uma morte injusta”, criticou Getúlio.
Protocolos 6b6d3p
Em nota, o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF) informou que Ana foi transferida para o Hospital Regional de Santa Maria, em 31 de maio, em estado gravíssimo, com covid-19, insuficiência respiratória, entubada e com auxílio de ventilação mecânica.
“A paciente de 56 anos tinha diversas comorbidades, como doença pulmonar obstrutiva crônica, hipertensão e diabetes. Ela recebeu o atendimento adequado no HRSM, mas, em 9 de junho, houve suspeita de morte cerebral e foi iniciado o protocolo de morte encefálica, que confirma com exames e análises clínicas o óbito”, afirmou a instituição gestora do hospital.
Ainda segundo o Iges-DF, a equipe de saúde “seguiu todos os protocolos do Conselho Federal de Medicina (CFM) para os casos de morte encefálica”. “O HRSM está à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos à família”, disse o texto.
O Correio abriu espaço para que a Secretaria Municipal de Saúde de Valparaíso (GO) também se manifeste, mas ainda não teve retorno.