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Perspectiva

Mesmo com avanço da vacinação, pandemia deve demorar a acabar

Ampliação da imunização para grupos mais jovens traz alívio, porém especialistas reforçam necessidade de manutenção dos cuidados. A crise só será controlada quando 75% da população estiver imunizada com duas doses, destacam

Cibele Moreira
postado em 15/08/2021 06:00
 (crédito: Cibele Moreira/CB/D.A Press)
(crédito: Cibele Moreira/CB/D.A Press)

O Distrito Federal caminha para um cenário com a maior parte da população adulta vacinada por, ao menos, uma dose contra a covid-19. Nessa semana, o atendimento alcançou pessoas com 20 anos ou mais. Na próxima terça-feira, o Executivo ampliará essa faixa etária para o grupo a partir dos 18 anos. O avanço será possível graças à chegada de 115.990 imunizantes à capital do país, ontem, sendo 55.150 da CoronaVac e 60.840 da Pfizer (leia mais na página 15). Até o momento, 1.784.763 indivíduos receberam a primeira aplicação; desses, 689.609 estão com o esquema vacinal completo, sendo que 54.442 tomaram a dose única.

Para o médico e doutor em saúde pública Roberto Bittencourt, a adesão entre jovens vista na semana ada é positiva. No entanto, o controle da pandemia só será possível quando 75% da população tiver tomado as duas doses ou a única (ontem, apenas 22,59% da população estava imunizada com a D2 ou dose única e 60,25% com a D1). “Chegar a esse índice é muito importante para nós. Não basta avançarmos na primeira aplicação. Precisamos ter uma busca ativa em relação à segunda. Não podemos deixar ninguém para trás”, ressalta.

O médico lembra que deve haver um trabalho conjunto para o DF e o país avançarem na imunização de quem não recebeu a primeira dose e conscientizar a população sobre a importância de completar o esquema vacinal. “Temos um caminho a seguir: primeiro, chegar a 75% da população com a primeira dose garantida; depois, a 75% das pessoas com a segunda; por fim, pensar em estratégias para o reforço com a terceira dose, principalmente na população idosa”, orienta. “Precisamos andar rápido na imunização. Quanto mais gente vacinada, menos pessoas expostas a variantes. Temos perdido muita gente para a doença. Precisamos mudar isso.”

Para quem viu pessoas próximas morrerem por causa da covid-19, ter a chance de receber o imunizante trouxe grande alívio. “Estou animada para tomar a vacina. Pela minha idade, pensei que demoraria mais. Fiquei feliz que conseguiram adiantar”, comemora a estudante Julia Lopes de Oliveira, 18 anos. Apesar da alegria, a jovem enfrentou dificuldades no último ano. “Foi horrível, muito difícil para me adaptar. Sou de escola pública e me senti muito prejudicada (nos estudos). Fora alguns familiares que eu perdi”, desabafa a moradora do Cruzeiro.

Mãe de Julia, a fisioterapeuta Ana Maria Lopes, 47, conta que ver a família se vacinar foi um momento muito aguardado. A filha mais velha dela, Natália Lopes, 23, tomou a primeira dose do imunizante contra a covid-19 na quinta-feira. Nesta semana, Julia será a próxima. “Em casa, estávamos na expectativa. Essa doença não escolhe idade. Então, meu marido e eu ficamos muito felizes por elas. Uma já foi. E a imunização delas também interfere na de outras pessoas. O importante é manter a saúde de todos”, reforçou Ana Maria.

No aguardo

Para a estudante Vitória Ferreira Guimarães, 18, a notícia do início da imunização para pessoas da faixa etária dela chegou em um momento de preocupação. “Com as novas mutações que têm surgido, espero que a vacina traga um pouco de alívio. Meus amigos e eu contamos os dias para as coisas voltarem a ser como eram. Mas sabemos que vai demorar um pouco e que temos de continuar a nos proteger e usar máscara”, comenta a moradora de Taguatinga Norte. “Quase todo mundo da minha família se vacinou. Agora, só faltam uns primos da minha idade e eu. Somos uns dos últimos.”

Acompanhada da irmã Dayana Lucena, 40, e do namorado, Samuel Koch Schubert, 20, Anna Lucena, 19, tentou se vacinar na quinta-feira no posto de vacinação do Parque da Cidade. Contudo, teve de esperar mais um pouco. Apenas Samuel pôde receber a primeira dose, por causa da idade. Apesar da tentativa, Anna diz não estar ansiosa: “Quando chegar minha vez, vai ser bom. Quis tentar logo, para aproveitar a viagem. Se não desse, tudo bem. Esperei tanto tempo, posso esperar mais um pouco”, diz a estudante.

Palavra de especialista

Benefícios da imunização
Todas as vacinas, não só contra a covid-19, nasceram para evitar a forma grave da doença e para evitar que as pessoas morram. Essa é a efetividade delas. Consequentemente, evitamos a hospitalização, a alta demanda no serviço de saúde e a superlotação, até porque outras doenças continuam a existir. O segundo benefício da vacina é dificultar a circulação do vírus, principalmente nesse cenário que vivemos, no qual há uma variante com grande poder de transmissão (Delta). Quando se reduz a faixa etária na campanha de vacinação, a ideia é diminuir, além da mortalidade, a circulação do vírus, porque sabemos que, mesmo em casos assintomáticos ou leves, as pessoas continuam a transmiti-lo.

Ana Helena Germoglio, infectologista

» Mutações

Saiba quais cepas da covid-19 foram identificadas pelos cientistas até o momento

Variantes de preocupação

» Beta (B.1.351) — identificada primeiro na África do Sul, em maio de 2020

» Alpha (B.1.1.7) — identificada primeiro no Reino Unido, em setembro de 2020

» Delta (B.1.617.2) — identificada primeiro na Índia, em outubro de 2020

» Gamma (P.1) — identificada primeiro no Brasil, em novembro de 2020


Variantes de interesse

» Epsilon (B.1.427/B.1.429) — identificada primeiro nos Estados Unidos, em março de 2020

» Zeta (P.2) — identificada primeiro no Brasil, em abril de 2020

» Kappa (B.1.617.1) — identificada primeiro na Índia, em outubro de 2020

» Lota (B.1.526) — identificada primeiro nos Estados Unidos, em novembro de 2020

» Lambda (C.37) — identificada primeiro no Peru, em dezembro de 2020

» Eta (B.1.525) — identificada em diversos países, em dezembro de 2020

» Theta (P.3) — identificada primeiro nas Filipinas, em março de 2021

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Circulação de 11 variantes preocupa

Um dos objetivos da vacinação é evitar o avanço da covid-19 e, consequentemente, o surgimento de novas variantes do novo coronavírus, com alto poder de transmissão e de provocar casos graves. Até o momento, pesquisadores identificaram 11 cepas do Sars-CoV-2. Quatro delas são denominadas variantes de preocupação, pelo grande potencial para levar à morte (leia Mutações). No Distrito Federal, a Gamma — identificada primeiro em Manaus — é a que predomina entre as notificações registradas pela Secretaria de Saúde, segundo amostragens do Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-DF).
No entanto, o Distrito Federal tem mais de 80 casos e duas mortes provocadas pela Delta — identificada, inicialmente, na Índia. Especialistas destacam que essa tem maior poder de transmissão, principalmente entre pessoas não vacinadas. “As variantes resultam em uma alteração aleatória. Cada vez que um vírus a por um organismo, ele tende a se multiplicar. E, nessa replicação, podem surgir mutações. Portanto, quanto menos pessoas infectadas, menores as chances de termos variantes”, explica o epidemiologista e professor da Universidade de Brasília (UnB), Wildo Navegantes. “A vacinação completa é o ideal para as pessoas estarem protegidas de casos graves. Se reduzirmos o contato físico, mantivermos o uso da máscara, evitarmos aglomerações e fizermos a higienização correta, teremos melhores resultados.”
Wildo observa que parte considerável da população tem relaxado nos cuidados, o que prejudica a contenção da crise sanitária. “Não é o momento para isso (abrir mão do recomendado pelas autoridades de saúde). Se as pessoas continuarem, será pouco provável termos um cenário de controle da pandemia daqui a três meses (quando os jovens receberão a segunda dose)”, alerta.

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