Brasília

Fim dos pinheiros no Parque da Cidade: projeto de Burle Marx terá adaptações

As árvores foram plantadas há mais de 40 anos e apresentavam ameaça à segurança dos visitantes

Vista aérea do antigo Bosque dos Pinheiros do Parque da Cidade.  -  (crédito: Arthur Ramos / CB)
Vista aérea do antigo Bosque dos Pinheiros do Parque da Cidade. - (crédito: Arthur Ramos / CB)
postado em 25/09/2023 03:54 / atualizado em 25/09/2023 07:49

As pessoas que costumam pedalar ou caminhar pelas imediações dos estacionamentos 3 e 4 do Parque da Cidade tem se assustado com a mudança de cenário no local. De repente, elas saem de uma área verde e se deparam com um extenso descampado.

A conselheira tutelar Ana Cristina, disse que levou um susto ao ver a área daquele jeito. “É um impacto, né? Dá um impacto na gente. Eu tive que atravessar ali e pisar em um meio de terra por causa dos bloqueios. O perigo é a gente pisar em falso e cair. Isso mexeu muito comigo”. O corredor Mário Blanco também levou um susto. “Foi inesperado. Foi um impacto que a gente teve por estar acostumado com o verde, com os pinheiros, que davam sombra”.

Tocos dos pinheiros removidos do Parque da Cidade.
Tocos dos pinheiros removidos do Parque da Cidade. (foto: Samuel Calado / CB)

A área a pelo processo de remoção dos pinheiros que teve início no mês de agosto deste ano. Os pinheiros, que não são típicos do Cerrado, foram plantados há mais de 40 anos e apresentavam ameaça à segurança dos visitantes. O estacionamento 3, por exemplo, estava interditado desde setembro de 2022, meses após o estudante Pedro Miguel Rodrigues Cardoso, de 15 anos, ser atingido por um galho de 15 metros. Com o impacto, o jovem sofreu uma parada cardiorrespiratória e foi internado em um hospital particular de Taguatinga por seis meses. O acidente deixou o Pedro tetraplégico. Uma idosa também foi atingida no mesmo dia e teve a perna fraturada.

Últimos pinheiros do bosque do Parque da Cidade.
Últimos pinheiros do bosque do Parque da Cidade. (foto: Material cedido ao Correio)

O local tem 6,2 hectares de área, que equivale a aproximadamente seis campos de futebol. Ao todo, serão retiradas 1.628 árvores. O chefe do departamento de parques e jardins da Novacap, Raimundo Oliveira Silva, contou que antes do início da remoção dos pinheiros houve uma mobilização técnica para avaliar a situação das árvores e definir o processo de retirada. “Foi feito um levantamento através da Novacap, por meio do Departamento de Parques de Jardins em conjunto com o Instituto Brasília Ambiental (IBRAM) e com a Secretaria de Esportes. Os nossos técnicos chegaram à conclusão da real necessidade de substituir os pinheiros por árvores nativas do Cerrado. As árvores chegaram ao final da idade delas. Muitas apresentavam podridão, ataque de doenças, fungos e brocas. A gente monitorou até onde deu, mas chegou um momento que, realmente, não dava para manter aquela floresta no local”.

Imagens aéreas dos estacionamentos 3 e 4 do Parque da Cidade. A área a pelo processo de remoção dos pinheiros. As árvores já estavam com mais de 40 anos e apresentavam risco aos visitantes.
Vista aérea do antigo Bosque dos Pinheiros do Parque da Cidade. (foto: Arthur Ramos / CB)


Projeto original com adaptações

Além da prevenção de acidentes, o projeto de remoção se coloca como o inicial para a retomada do projeto paisagístico original do parque, elaborado pelo paisagista Burle Marx. O engenheiro florestal do IBRAM, Irving Martins Silveira, proponente do plano oficial, explicou que a intenção do grupo esteve em manter o projeto da forma mais fidedigna possível, mas com algumas adaptações.

“O projeto tem algumas peculiaridades que precisam de atualização. Burle Marx tem a peculiaridade de abordar a flora de todo o Brasil com os diversos tipos de biomas. No plano, ele colocou espécies do bioma da Amazônia, Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado e até Pantanal. Algumas espécies que ele recomendou já foram amplamente utilizadas na arborização urbana de Brasília. Para algumas delas a gente tem lições aprendidas e a gente não recomenda por apresentarem patógenos, insetos ou outros fatores que podem afetar a saúde da árvore e provocar quedas. Por isso, algumas espécies de árvores que estão no projeto terão abordagens diferentes. Vamos sugerir espécies distintas, seguras e que tenham características estéticas e funcionais semelhantes à proposta original. Esse tipo de adaptação está prevista, inclusive, nos normativos que tratam do plano. É um projeto que tem um tombamento”.

 

  • Foto da Planta do Projeto Original de Paisagismo do Parque da Cidade - Jardim de Burle Marx - Estacionamento 5 Arquivo Digitalizado na Diretoria de Preservação - Secretaria de Cultura e Economia Criativa.
  • Foto da Planta do Projeto Original de Paisagismo do Parque da Cidade - Jardim de Burle Marx - Estacionamento 4 Arquivo Digitalizado na Diretoria de Preservação - Secretaria de Cultura e Economia Criativa.
  • Foto da Planta do Projeto Original de Paisagismo do Parque da Cidade - Jardim de Burle Marx - Estacionamento 3 Arquivo Digitalizado na Diretoria de Preservação - Secretaria de Cultura e Economia Criativa.


Gráficos mostram áreas e mudas que serão plantadas no novo bosque

Os gráficos do projeto trazem fotos da versão original feita pelo paisagista Burle Marx e também uma previsão das áreas e mudas que serão plantadas. Em síntese, as novas árvores serão distribuídas em ilhas de vegetação com povoamento de espécies distintas abrangendo representantes de todos os biomas brasileiros.

  • Gráfico de localização das áreas de plantio baseados no Projeto Original do Jardim de Burle Marx. Google / abril de 2023.
  • Gráfico de localização das áreas de plantio baseados no Projeto Original do Jardim de Burle Marx. Google / abril de 2023.
  • Gráfico de localização das áreas de plantio baseados no Projeto Original do Jardim de Burle Marx. Google / abril de 2023.
  • Gráfico de localização das áreas de plantio baseados no Projeto Original do Jardim de Burle Marx. Google / abril de 2023.


Restauração das churrasqueiras do Bosque dos Pinheiros 

A região do Bosque dos Pinheiros era uma das mais frequentadas pelas famílias aos finais de semana. Churrascos, chás revelação, piqueniques e até ensaios fotográficos movimentavam o lugar. Com a interdição do espaço, muitas famílias migraram para outros lugares, como a área próxima à sede do Grupo de Escoteiro José de Anchieta.

O Secretário Executivo de Políticas de Esporte do DF, Renato Junqueira, destacou que os equipamentos de lazer e as churrasqueiras serão revitalizados e entregues à população. “A partir do momento em que você retira uma árvore com o tamanho de um pinheiro, se causa algum dano. A nossa parte de engenharia da secretaria previu que aproximadamente 25 churrasqueiras sofreriam algum tipo de dano. Todas essas churrasqueiras serão revitalizadas e restauradas”.

Junqueira adiantou também que a secretaria está elaborando um projeto para receber e acomodar as famílias que têm o costume de fazer churrasco no parque. “Nós estamos trabalhando aqui na Secretaria de Esportes para elaborar um projeto para desenvolver uma área de convivência de famílias, com várias churrasqueiras e que não tenham árvores ao redor para não causar acidentes. A gente sabe o quão importante é aquele espaço para as famílias. Acredito que até início de novembro estaremos apresentando um projeto nesse sentido”, acrescentou.

  • Churrasqueiras do Bosque dos Pinheiros no Parque da Cidade antes da remoção das árvores. Arquivo / CB
  • Churrasqueiras do Bosque dos Pinheiros no Parque da Cidade antes da remoção das árvores. Arquivo / CB
  • Vista aérea do antigo Bosque dos Pinheiros do Parque da Cidade. Arthur Ramos / CB
  • Vista aérea do antigo Bosque dos Pinheiros do Parque da Cidade. Arthur Ramos / CB


Pinheiros serão leiloados 

Raimundo Oliveira Silva explicou que o material será encaminhado até uma área específica da Novacap. “Lá será feito o processo de separação por lote. Os galhos e as folhas am pelo processo de trituração e viram o composto orgânico que é doado aos pequenos agricultores. Já os troncos serão separados e arão por um processo de licitação pública para serem arrematados por empresas. O dinheiro referente ao leilão irá voltar aos cofres do GDF e será revertido à população”, explicou.

Previsão

De acordo com a Novacap, após a remoção das árvores haverá a limpeza do local, a retirada dos tocos, a abertura dos berços, a correção e adubação do solo para até então receber as novas mudas. A previsão é que até o final de 2027, as novas árvores já estejam produzindo sombra para os visitantes.

Assista à reportagem especial 

 

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