Aglomerados em uma praça, moradores da Quadra 408, em Samambaia, compartilhavam, comovidos, as primeiras notícias sobre o assassinato de Adriano de Jesus, 50 anos, empreendedor e motorista de transporte escolar na região, assassinado com quatro tiros, disparados pelo comerciante Francisco Evaldo de Moura, 56, seu vizinho. "A gente nunca espera isso de quem mora ao nosso lado há tantos anos", disse um dos moradores da região. Segundo a investigação, o crime foi motivado pela disputa por vagas em um estacionamento público.
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Francisco, conhecido na região apenas como Moura, teria se enfurecido após o filho de Adriano, Gabriel Ferreira, 20, estacionar um Fiat Bravo prata no local onde o comerciante costumava parar seu veículo. Câmeras de segurança de residências vizinhas registraram o desentendimento e o momento em que Francisco dispara contra pai e filho. Ambos correram para dentro da residência, mas foram seguidos pelo comerciante, que não parava de atirar.
Gabriel não foi atingido, mas Adriano recebeu quatro tiros, sendo dois no pescoço e dois no tórax, e morreu na hora. Havia marcas de bala no portão da família e de uma casa vizinha. Após os disparos, Francisco sai caminhando como se nada tivesse acontecido. Retorna para dentro de casa e parece buscar um objeto. Depois, foge vestindo uma calça jeans azul e uma blusa branca.
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Tio Adriano 572t2y
O clima de consternação abalou até os moradores das quadras vizinhas que, mesmo não tendo proximidade com a família da vítima, a conheciam de vista ou por meio dos filhos, que eram transportados por ele e o chamavam de Tio Adriano. Diariamente, Katiane Moraes, 38, a em frente à casa do empreendedor rumo ao salão de beleza onde trabalha.
"Sempre o cumprimentava. Mais cedo, escutei os tiros e pouco depois ouvi dizer que ele tinha sido assassinado. Eu mesma já presenciei brigas causadas pelo Francisco Moura. Ele implicava de propósito e sem motivo, porque o Adriano jamais estacionou os ônibus ou vans na porta dele (Moura)", ressalta.
Na tarde de ontem, amigos, familiares e funcionários de Adriano estiveram na casa da vítima para prestar as condolências. Os parentes preferiram não conceder entrevistas. Um carro de uma funerária foi à residência para as tratativas do sepultamento.
Junto à esposa, Adriano comandava uma empresa de transporte escolar, a TransLegal Transporte Escolar —Tia Elaine e Tio Adriano. O empresário fazia o deslocamento de alunos moradores de Samambaia Sul e Norte. Nas redes sociais, não faltavam elogios para o serviço prestado pelo casal.
"Vocês são muito atenciosos e gentis. Só tenho elogios. Simpatia e profissionalismo! Vocês são os melhores", estão entre os comentários. Em outros posts, clientes lamentaram a morte de Adriano. "Meus sentimentos. O Tio Adriano sempre foi uma ótima pessoa. Levou meus filhos por anos, uma pessoa maravilhosa. Que Deus o receba e a Justiça seja feita."
Confusão antiga 4o724
Segundo relato de amigos da vítima, Adriano morava há cerca de 20 anos na Quadra 408. Era esposo, pai, avô e vizinho querido. "A vida dele era dividida entre o trabalho e a igreja, onde participava de uma banda tocando violão. Nunca o vi levantar a voz para alguém. Era uma pessoa do bem", contou Eraldo Martins, 52, que mora a poucos metros do local onde ocorreram os disparos. Sobre Francisco, o tecnólogo tem pouco a dizer. "Não 'dava' muita conversa, era mais fechado", resumiu.
Outros vizinhos, porém, contaram que o suspeito era pouco amigável. "Ele se sentia dono da rua. Não permitia que estacionassem em locais próximos a sua casa, ainda que fossem espaços públicos. Reclamava de tudo e com todos, além de ser grosseiro. Criava confusão até com o pessoal que fazia leitura de água", relatou uma idosa, moradora da região, que preferiu não se identificar. Adriano, inclusive, cogitava se mudar de casa devido aos conflitos com vizinho, conforme informou Marcela Mendonça, 52, amiga de longa data do empreendedor. "Eram desentendimentos constantes", contou.
Edvan Alves, 61, amigo da vítima há 30 anos, afirmou que Adriano evitava conflitos com o vizinho a todo custo. "Ele (Adriano) estacionava seus ônibus praticamente grudados à parede, justamente para não atrapalhar o demais veículos que circulavam na rua. A família está desolada, ainda sem acreditar nessa tragédia", lamentou.
Arma ilegal 514m3k
Francisco Moura não tinha permissão para portar armas, tampouco registro da arma utilizada no crime, conforme fontes ouvidas pelo Correio. "Era uma pessoa bastante fechada, de poucos amigos, tanto que não sabemos muitas informações sobre ele", conta uma pessoa, que preferiu não se identificar.
O Correio apurou que o assassino não tem antecedentes criminais na polícia. A arma que estava com ele ainda não foi localizada. Francisco vai responder pelos crimes de homicídio consumado e tentado qualificado e porte ilegal de arma de fogo.
O caso é investigado pela 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia Norte). Ao longo do dia de ontem, os policiais civis colheram depoimentos de testemunhas e familiares. A PCDF informou que, no momento, não concederá entrevista para não atrapalhar as investigações.