INOVAÇÃO

Reconhecimento facial é um aliado da segurança pública do DF

Utilização de inteligência artificial e análise de dados transformam o trabalho das forças policiais no DF no combate à criminalidade e colocam ciência e proteção a serviço da população

 Com apenas um clique e uma foto, o profissional de segurança consegue ar o histórico de uma pessoa, incluindo todas as ocorrências em que ela esteve envolvida -  (crédito:  Bruna Gaston/CB/D.A Press)
Com apenas um clique e uma foto, o profissional de segurança consegue ar o histórico de uma pessoa, incluindo todas as ocorrências em que ela esteve envolvida - (crédito: Bruna Gaston/CB/D.A Press)

O avanço tecnológico revoluciona a forma como as forças de segurança atuam no Distrito Federal. Ferramentas digitais, inteligência artificial e integração de bancos de dados fazem parte do dia a dia dos agentes, com o objetivo claro de prevenir crimes, agilizar operações e proteger a população.

Entre os recursos mais importantes, o reconhecimento facial destaca-se como peça-chave. Ele tem sido essencial na identificação de foragidos, localização de pessoas desaparecidas e abordagens em campo. Graças a parcerias com a Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), as forças policiais ampliaram sua capacidade de resposta. Com apenas um clique e uma foto, o profissional de segurança consegue ar o histórico de uma pessoa, incluindo todas as ocorrências em que ela esteve envolvida.

Em entrevista ao Correio, o secretário de Segurança Pública, Sandro Avelar, destacou o papel central da inovação no combate à criminalidade. "As tecnologias são aliadas fundamentais. Nossas ações são baseadas na integração entre as forças de segurança e outros órgãos do Governo. Essa comunicação permanente é essencial para o sucesso dos nossos programas. Um bom exemplo é o Programa de Videomonitoramento Urbano (PVU), que conecta 31 instituições, incluindo Polícia Militar (PMDF), Polícia Civil (PCDF) e Corpo de Bombeiros (CBMDF), permitindo o compartilhamento de informações em tempo real e ações coordenadas em situações críticas", afirmou.

Avelar também projeta avanços ainda maiores, apostando na automação e em ferramentas que otimizem decisões estratégicas. "Estamos expandindo os sistemas de videomonitoramento, com o uso de totens, drones, e estudando soluções de inteligência artificial e reconhecimento facial. Nosso compromisso com a inovação está diretamente ligado à segurança da população", reforça.

Antecipação do crime

Com 30 anos de carreira, o coronel Clauder Costa de Lima, diretor de Telemática (Ditel) da PMDF, relembra como a tecnologia mudou tudo. "Quando entrei, a internet estava apenas começando. A grande virada veio em 2012, com a criação da  Rede Metropolitana de Dados, que foi projetada para a Copa do Mundo. Ela permitiu comunicação mais eficiente entre as forças de segurança por meio de dados móveis e integração institucional", explica.

Um novo salto aconteceu após os atos de 8 de janeiro. "Implantamos o sistema Planus, que alinha diretrizes estratégicas com metas operacionais, e o aplicativo Nexus, que realiza reconhecimento facial com apenas uma foto. O sistema cruza dados com outras forças e gera relatório do histórico das pessoas, isso depois pode ser analisado por inteligência artificial e pela Justiça", diz o coronel.

Drones, totens de segurança e painéis de Business Intelligence (BI) ajudam a mapear crimes, aperfeiçoar a gestão e qualificar decisões estratégicas. Para o especialista em segurança pública Leandro Santana, a tecnologia representa uma economia de tempo e esforço. "Reduzimos o tempo de resposta em buscas por foragidos ou pessoas desaparecidas. O cruzamento entre bancos de dados e sistemas de monitoramento em tempo real permite localizar indivíduos rapidamente, mesmo quando se deslocam entre estados", destaca. Ele também ressalta o poder preventivo desses sistemas. "Se alguém com mandado de prisão muda de estado, a integração de dados permite rastrear rapidamente onde essa pessoa está. Isso amplia a capacidade de ação preventiva das forças de segurança."

No entanto, Santana alerta para os desafios éticos, como o uso de imagens pessoais. "A questão da permissão para uso da imagem é delicada. Mas, em situações que envolvem segurança pública, o bem maior, que é proteger vidas, deve prevalecer", argumenta.

Transparência e confiança

Francisco Barbosa, presidente executivo da Associação Brasileira de Entidades Estaduais e Públicas de Tecnologia da Informação e Comunicação (ABEP-TIC), afirma que, quando bem aplicada, a tecnologia transforma a segurança pública. "A integração entre câmeras, radiocomunicação, bases de dados e IA permite não só reagir, mas também antecipar situações. Com isso, atuamos de forma mais estratégica".

Para Barbosa, a tecnologia fortalece a confiança da população nas instituições. "A transparência nas ações policiais, hoje, a pela tecnologia. Monitorar viaturas, registrar cada etapa de uma operação, saber quem atuou e como atuou, tudo isso é possível. E tudo isso protege tanto o cidadão quanto o bom profissional de segurança."

Reconstituição digital

Na PCDF, a inovação também chegou à perícia. Scanners a laser 3D substituíram medições manuais e desenhos à mão. Agora, é possível digitalizar cenas de crimes com precisão milimétrica e revisitá-las virtualmente em qualquer etapa da investigação. 

O perito Leandro Dias, do setor de Engenharia de Software da PCDF, destaca que as ferramentas tecnológicas utilizadas pela corporação são desenvolvidas internamente. "Via de regra, tudo o que usamos em termos de tecnologia é produzido aqui mesmo. Nosso núcleo de inteligência artificial, por exemplo, foi criado em 2023", relata.

Um dos destaques é o uso de inteligência artificial no combate a crimes sexuais. Leandro cita a ferramenta de detecção de espermatozoides como exemplo. "Quando ocorre um crime sexual, uma equipe coleta materiais, como roupas íntimas ou lençóis, que são levados ao laboratório. Ali, esses itens são transformados em amostras e analisados no microscópio, que gera entre 400 e 600 imagens. Essas imagens são processadas por uma ferramenta que identifica a presença de espermatozoides em cerca de um minuto. Antes, esse processo podia levar até três horas para ser concluído manualmente pelas peritas", explica.

Outra solução inovadora está na análise automática de vídeos. "Recebemos muitos vídeos, especialmente de câmeras de segurança ou celulares. Todo material a por uma ferramenta que realiza detecções automáticas: identifica nudez, veículos, pessoas, armas, tudo de forma automática. As informações extraídas são incluídas diretamente nos laudos. Trabalhamos, ainda, com reconhecimento facial, com algoritmos próprios desenvolvidos desde 2017. É uma tecnologia que já está bem madura dentro do nosso Instituto", acrescenta.

Mapas mentais

Entre os recursos mais recentes está também o aplicativo Charlie, uma ferramenta que analisa grandes volumes de texto. "Imagine uma investigação com dezenas de documentos relacionados a fraudes, contas telefônicas, nomes de envolvidos. Você pode subir tudo na ferramenta, e ela começa a cruzar dados automaticamente: nomes, vínculos, padrões. Com isso, conseguimos montar mapas mentais", conclui o perito.

Esses modelos digitais permitem, por exemplo, simular o campo de visão de uma testemunha, a trajetória de um projétil ou a dinâmica de um acidente de trânsito. Animações, tours virtuais e simulações interativas ajudam a esclarecer dúvidas e fortalecer o processo judicial. A PCDF reforça que quem mais ganha com isso é a sociedade, que a a contar com provas mais robustas e visualmente compreensíveis.

Eficiência

O Corpo de Bombeiros Militar (CBMDF) também se modernizou. Câmeras instaladas em torres detectam fumaça e calor em tempo real, agilizando o combate a incêndios florestais. Drones sobrevoam áreas de difícil o, orientando as equipes com imagens aéreas precisas.

Em operações aquáticas, sonares identificam corpos submersos mesmo em baixa visibilidade, reduzindo o tempo de resposta. Já em incêndios urbanos, câmeras térmicas localizam focos de calor e vítimas em meio à fumaça. Além disso, um aplicativo de georreferenciamento ajuda a mapear áreas afetadas e elaborar relatórios ambientais e operacionais. Essa combinação de dados e tecnologia garante mais eficiência e segurança para quem atua nas emergências — e para toda a população.

postado em 01/06/2025 06:00
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