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Clássico atemporal, "Vale tudo" retorna atual nesta segunda-feira (31/3)

Considerada "a novela das novelas", "Vale tudo" volta em um remake que promete reacender reflexões importantes acerca do Brasil do ado que seguem atuais. Uma das maiores expectativas é Odete Roitman, que será interpretada por Debora Bloch

Débora Bloch é a nova Odete Roitman, a vilã mais icônica das telenovelas -  (crédito: Globo/ Estevam Avellar)
Débora Bloch é a nova Odete Roitman, a vilã mais icônica das telenovelas - (crédito: Globo/ Estevam Avellar)

Na virada de 1989, o Brasil parou em torno de um assassinato e ou dias debatendo o mistério sobre quem matou Odete Roitman. Morta na noite de Natal de 1988, a todo-poderosa empresária interpretada pela atriz Beatriz Segall (1926-2018) entrou para a história da teledramaturgia como a maior vilã de todos os tempos e coroou Vale tudo como "a novela das novelas".

Escrita por Gilberto Braga (1945-2021), Aguinaldo Silva e Leonor Bassères (1926-2004), a produção exibida no horário das oito da TV Globo marcou época, virou referência para novas obras que vieram a seguir, tornou-se tema de teses acadêmicas, foi vendida para mais de 30 países e ganhou, em 2002, uma versão internacional produzida para o público latino nos Estados Unidos. Agora, quase quatro décadas depois, volta como a grande aposta  para comemorar os 60 anos da emissora, em uma releitura adaptada por Manuela Dias — autora aclamada pela antologia Justiça. O remake estreia nesta segunda-feira (31/3), no horário nobre.

Contemporânea para a sua época, Vale tudo é uma novela que questiona a possibilidade de se dar bem no Brasil sendo honesto. A história é contada por meio da trajetória de Raquel e Maria de Fátima Accioly, mãe e filha que têm visões opostas sobre o caminho para se dar bem na vida e veem seus caminhos serem entrelaçados por Odete Roitman, uma mulher que representa uma elite autoritária e classista que despreza as minorias e os direitos humanos. 

A reflexão lançada em 1988 permanece atual e será novamente o mote do remake, ambientado nos dias de hoje. "Ser honesto é algo atemporal, porque a ética não muda. É uma questão que continua totalmente pertinente e que precisa ser debatida", declarou a autora, que, no evento de
lançamento, realizado no Copacabana Palace, pediu a bênção dos criadores da obra original. 

Elenco de Vale Tudo: Solange (Alice Wegmann), Afonso Roitman (Humberto Carrão), Ivan (Renato Góes), Raquel (Taís Araujo), Odete Roitman (Débora Bloch), Maria de Fátima (Bella Campos),  Heleninha (Paolla Oliveira), Leila (Carolina Dieckmann), Marco Aurélio (Alexandre Nero) e César (Cauã Reymond)
Elenco de Vale Tudo: Solange (Alice Wegmann), Afonso Roitman (Humberto Carrão), Ivan (Renato Góes), Raquel (Taís Araujo), Odete Roitman (Débora Bloch), Maria de Fátima (Bella Campos), Heleninha (Paolla Oliveira), Leila (Carolina Dieckmann), Marco Aurélio (Alexandre Nero) e César (Cauã Reymond) (foto: Globo/ Fabio Rocha)

Representatividade

Protagonizada originalmente por Regina Duarte e Glória Pires, as personagens Raquel e Fátima serão defendidas, agora, por Taís Araújo e Bella Campos, respectivamente — atrizes que, ao contrário das ancestrais, são negras. Essa caracterização seria impensável na época, mas faz parte de uma nova política implementada pela emissora de valorização — e reparação — dos artistas com diferentes etnias no protagonismo. Para Manuela Dias, a heroína da história original "era branca pela nossa incapacidade social de dar o protagonismo para outra atriz preta".

Nessa nova versão, aliás, a produção aumentou consideravelmente o número de negros, que eram apenas dois na primeira montagem, em posições periféricas e estereotipadas. Agora, haverá, além das protagonistas, uma família 100% preta que pertence à classe média, e com formação superior. "Estamos fazendo a novela para o público de hoje. Para quem assistiu à primeira versão e para quem vai conhecer a história. Tivemos que acomodar as transformações, algumas discussões evoluíram. Hoje, ressignificamos e aprendemos muita coisa. Acatamos as mudanças desejosos de ter uma obra contemporânea, mas a história estará lá na íntegra", garantiu o diretor artístico, Paulo Silvestrini. 

Entre algumas mudanças necessárias, destaca-se a sobrevida do casal lésbico Cecilia e Laís, que foi desfeito nos anos 1980 pelo tabu com a morte trágica da primeira, e a alteração da empresa Tomorrow para agência de conteúdo digital, em vez de uma revista de moda e estilo — inclusive, o sonho da alpinista social Maria de Fátima, agora, é ser influenciadora, e não mais modelo. No entanto, duas características essenciais de Vale tudo serão mantidas: o tema de abertura — Brasil, de Cazuza, na voz de Gal Costa (homenageada, aliás, com sua imagem encerrando a nova abertura) — e o logotipo originais. Ah, sim, e o gigolô maduro César Ribeiro, que vira a cabeça da filha de Raquel, agora vivido por Cauã Reymond, ará boa parte da trama usando apenas uma sunga — assim como seu antecessor, Carlos Alberto Riccelli. 

"Para quem não viu, as histórias são vivas e, depois de 37 anos, a nossa expectativa é de que 40% do público terá tido contato com a obra original, mas a novela é feita para todos. É uma chance incrível, atualizada, com esse cheiro vintage compondo com todos os setores. Para quem viu, é como reencontrar um amigo: ele continua sendo seu amigo, mas o tempo fez o seu trabalho", garantiu Manuela Dias. 

 Taís Araújo como Raquel em vale tudo
A Raquel de Taís Araújo é a heroína da trama (foto: Globo/ Fábio Rocha)

Odete Roitman, boazinha?

Uma das maiores expectativas para o remake está focado na arquivilã da história, que, agora, será interpretada pela veterana Debora Bloch. Para uma grande parcela do público que conhece — e defende como "imexível" — a obra original, a escolha de uma atriz parda para o papel de Maria de Fátima é controverso, já que ela se tornará nora de uma aristocrata racista. Mas a autora não considera a cor da pele da aprendiz de vilã um problema. "Acho que a Odete é uma personagem pragmática. Serve quem está a serviço dela para executar a agenda dela, e ela tem uma forte identificação com a Maria de Fátima, que supera essa questão racial", justificou.

Manuela Dias também causou polêmica ao apontar, em uma entrevista, que a megera imortalizada por Beatriz Segall poderia ser menos odiosa. "Vale tudo foi a novela da volta da democracia e, naquele momento, falar mal do Brasil, ou poder falar mal, era resistência, era revolucionário, era novo. Hoje não é mais. A gente está saturado disso. O novo é encontrar maneiras de transformação", ela declarou, à época. Criticada, voltou atrás, reafirmando que Odete jamais deixará de ser cruel. "'Odete Roitman vai ser boazinha'. Pô, claro que não", consertou.

Algumas coisas são certas em relação à personagem repaginada: a megera prepotente entrará na novela em uma volta triunfal ao Brasil declamando absurdos sobre o país e seus habitantes, infernizará a vida da filha alcoolista, Heleninha (Paolla Oliveira), envenenará a maionese que será servida pela sua antagonista Raquel — uma agem icônica da trama, que, assim como a maioria delas, será mantida — e será assassinada na reta final. Desta vez, porém, a assassina não será Leila, vivida por Cássia Kis e, agora, interpretada por Carolina Dieckmann. Uma nova autoria para o crime foi garantida pela emissora e, assim, desde já, as apostas estão lançadas: quem matará Odete Roitman em 2025?

Venha fotos no novo elenco:

  • Alexandre Nero defende  o vilão Marco Aurélio
    Alexandre Nero defende o vilão Marco Aurélio Globo/ Leo Rosario
  • Fátima (Bella Campos) quer ser influenciadora
    Fátima (Bella Campos) quer ser influenciadora Globo/ Manoella Mello
  • Leila (Carolina Dieckmann) não será mais assassina
    Leila (Carolina Dieckmann) não será mais assassina Globo/ Fabio Rocha
  • Solange (Alice Wegmann) e Afonso (Humberto Carrão)
    Solange (Alice Wegmann) e Afonso (Humberto Carrão) Globo/ Manoella Mello
  •  Ivan (Renato Goes),  um mocinho controverso
    Ivan (Renato Goes), um mocinho controverso Globo/ Manoella Mello
  • Cauã Reymond viverá  o gigolô Cesar Ribeiro
    Cauã Reymond viverá o gigolô Cesar Ribeiro Globo/ Fabio Rocha
  • Débora Bloch é a nova Odete Roitman, a vilã mais icônica das telenovelas
    Débora Bloch é a nova Odete Roitman, a vilã mais icônica das telenovelas Globo/ Estevam Avellar
  • Helena Roitman vem na pele de Paolla Oliveira
    Helena Roitman vem na pele de Paolla Oliveira Globo/ Marcos Serra Lima
  • A Raquel de Taís Araújo  é a heroína  da trama
    A Raquel de Taís Araújo é a heroína da trama Globo/ Fábio Rocha

 


postado em 30/03/2025 00:01 / atualizado em 30/03/2025 14:55
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