Crítica

Retrato de um déspota esclarecido: leia crítica do filme de Wes Anderson

Um rombo incalculável nas contas de um empresário às voltas com túneis, barragens e espionagem industrial puxa o fio da meada do novo longa de Wes Anderson, 'O esquema fenício'

O esquema fenício: riso retrô -  (crédito:  Courtesy of TPS Productions/Focus Features)
O esquema fenício: riso retrô - (crédito: Courtesy of TPS Productions/Focus Features)

Crítica // O esquema fenício ★★★

Na trilha sonora, o novo filme de Wes Anderson contempla de John Dizzy Gillespie e Frank Paparelli, ando por Bach, Stravinsky e Beethoven; o protagonista, entretanto, desvia de uma orquestração sistemática: muitos têm planos de matá-lo. Com senso bélico acurado, Zsa-zsa Korda (Benicio del Toro) é adepto de formalidades e polidez, mas, na lida com armamentos, negociatas de aviação, projetos de hidrelétricas e mineração, Korda traz prioriza estratégias ousadas e arriscadas. Com começo, meio e fim, o filme, ambientado nos anos de 1950, traz traços de amalucada aventura, que inclui até um episódio com areia movediça, e preza elementos inusitados como polígrafo e telex.

Com argumento criado em parceria com Roman Coppola (diretor de efeitos visuais de Drácula de Bram Stoker), Anderson desenvolveu o roteiro espelhando parte da vida de tipos como o turco Calouste Sarkis Gulbenkian, engenheiro e explorador de petróleo, atuante nos idos de 1900. O exotismo, presente em filmes como Três é demais (1998) e Os excêntricos Tenenbaums (2001), segue em primeiro plano. Além de comédia física, Wes ainda tem rompantes de esquetes que lembram os do meticuloso Mel Brooks.

A longevidade dos projetos fazem com que Korda busque a herdeira afastada, Liesl (Mia Threapleton), um noviça incapaz de sentir "amor" operante na mansão do pai. Com discreto aceno ao clássico A noviça rebelde, o diretor traz menção à imensidão de filhos de Korda, meninos que terão por tutor o esquisito Bjorn (Michael Cera), numa criação nada ortodoxa.

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Divertidos desastres estão na trajetória de Korda — que convive com fauna peculiar ativada por atores como Riz Ahmed, Tom Hanks, Bryan Cranston, Mathieu Amalric, Scarlett Johansson e Stephen Park — e é tratado como rei, estando cercado ainda pela excelência estética de todo e qualquer filme de Anderson.

 

 

postado em 30/05/2025 06:03
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