
A consultora empresarial Adriana Campos Freire, 58 anos, se enquadra no crescente rol dos que decidiram "chutar o pau da barraca" e partir para uma vida mais livre, leve e solta. Ela conta que firmou um contrato de dois anos com uma rede de móveis corporativos, mas chegou à conclusão, 18 meses depois, de que não valia a pena desprender tanto tempo e energia em uma ocupação nada motivadora.
"Já não via mais sentido naquilo. Não sei se envelheci e minha paciência acabou ou se realmente insisti nessa área sem muito interesse", diz Adriana, que acumula experiência de pelo menos 15 nos na área. "Já voltei para essa seara sem muito interesse. Tentei, mas esse capitalismo e todo esforço que a função exige não me representam. Entendi que, para insistir nessa ideia, é preciso muita coragem ou falta de juízo", completa.
No emprego, Adriana recebia salário de R$ 10 mil, o suficiente para manter a casa e suas necessidades. Mãe de dois filhos, de 25 e 28 anos, ainda dispensa atenção financeira ao mais velho. "Não que eu seja aquele tipo de mãezona super protetora. Parto do princípio de que temos que fazer nossa parte quando os filhos ainda são crianças", diz
Questionada sobre sua escolha na vida profissional, conta que ingressou no segmento por acaso, mas sempre foi muito questionadora. "No final das contas, fazendo uma análise crítica, nos endividamos para justificar o emprego ou seguimos criando estratégias para bater metas. Mas tudo isso é muito pouco para sustentar ilusões", filosofa.
Antes de encarar o mercado, Adriana mantinha em sua antiga casa, no Lago Sul, uma oficina onde fazia peças de artesanato reaproveitando materiais recicláveis. Veio a pandemia e com ela a crise. Se viu, então, obrigada a se mudar para um apartamento, mas não abriu mão de suas produções. "Minha ambição sempre foi ser artista plástica", revela.
Hoje, Adriana voltou a produzir peças decorativas e comercializa seu trabalho com o apoio de um grupo de arquitetos. "Como todo louco, me sinto liberta, feliz da vida. Não gosto de ser crítica fervorosa do capitalismo, não há como fugir dele, mas há, sim, um equilíbrio a se buscar. A independência tem um preço alto, mas vale muito a pena", ensina.
Rompendo Fronteiras
O vendedor Igor Coutinho, 22, é outro exemplo de quem optou por buscar outras possibilidades que não fossem atreladas à bater ponto diariamente e se submeter a longas jornadas de trabalho. Ele trabalhava em uma oficina de peças automotivas, com salário fixo de R$ 1.500. Segundo ele, foram sete longos meses de labuta, até que, num belo dia, resolveu mudar e fazer o que sempre quis: morar e trabalhar fora do Brasil. "Meu salário não dava pra nada. Então, comecei a planejar uma viagem. Busquei programas de intercâmbio e fui para os Estados Unidos", conta.
Na terra do tio Sam, começou a trabalhar em dois empregos e ou a ganhar dez vezes mais em relação ao que recebia no Brasil. "Viajei por vários estados, conheci lugares incríveis. Lá a gente experimenta outra vida. É muito mais fácil para sobreviver. Para se ter uma ideia, com 15 dias de trabalho comprei um iPhone último modelo e ainda sobrou bastante", diz, frisando que a carga horária nos serviços que arranjou nos Estados Unidos era infinitamente inferior a que encarava no Brasil.
De volta e com o dinheiro que juntou por lá, decidiu dar andamento a um antigo projeto, a Plataforma do Brownie, que havia iniciado há um no e meio. Agora, adotou a semana de quatro dias e chega a ganhar mais de R$ 3 mil por mês. "Minha mente está bem mais aberta com a experiência que tive fora . Hoje em dia, por mais oportunidades que me ofereçam, não volto a nenhum emprego fichado", afirma o agora empreendedor, que pretende se especializar em programação web e tentar a sorte em uma multinacional fora do Brasil.