{ "@context": "http://www.schema.org", "@graph": [{ "@type": "BreadcrumbList", "@id": "", "itemListElement": [{ "@type": "ListItem", "@id": "/#listItem", "position": 1, "item": { "@type": "WebPage", "@id": "/", "name": "In\u00edcio", "description": "O Correio Braziliense (CB) é o mais importante canal de notícias de Brasília. Aqui você encontra as últimas notícias do DF, do Brasil e do mundo.", "url": "/" }, "nextItem": "/mundo/#listItem" }, { "@type": "ListItem", "@id": "/mundo/#listItem", "position": 2, "item": { "@type": "WebPage", "@id": "/mundo/", "name": "Mundo", "description": "Fique por dentro sobre o que acontece no mundo. Américas, Europa, África, Ásia, Oceania e Oriente Médio estão em destaque ", "url": "/mundo/" }, "previousItem": "/#listItem" } ] }, { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": "/mundo/2025/04/7130408-culpa-da-energia-solar-a-discussao-em-torno-de-fontes-de-energia-renovavel-apos-apagao-na-espanha-e-em-portugal.html", "name": "Culpa da energia solar? A discussão em torno de fontes de energia renovável após apagão na Espanha e em Portugal", "headline": "Culpa da energia solar? A discussão em torno de fontes de energia renovável após apagão na Espanha e em Portugal", "description": "", "alternateName": "INVESTIGAÇÃO", "alternativeHeadline": "INVESTIGAÇÃO", "datePublished": "2025-04-30T04:53:00Z", "articleBody": "<p class="texto">Ainda há muitas perguntas sem respostas sobre as causas do apagão que levou caos à Península Ibérica na última segunda-feira (28/04). Mas, <a href="https://correiobraziliense-br.amazoniaemfoco.com/portuguese/articles/cvgn7eyv0ngo?xtor=AL-73-%5Bpartner%5D-%5Bcorreiobraziliense.com.br%5D-%5Blink%5D-%5Bbrazil%5D-%5Bbizdev%5D-%5Bisapi%5D" target="_blank">desde que Portugal e Espanha ficaram no escuro</a>, os dois países têm discutido se uma falha em um sistema de energia solar espanhol estaria por trás do blecaute.</p> <p class="texto">A Espanha, <a href="https://correiobraziliense-br.amazoniaemfoco.com/portuguese/articles/c93g2eqgkxxo?xtor=AL-73-%5Bpartner%5D-%5Bcorreiobraziliense.com.br%5D-%5Blink%5D-%5Bbrazil%5D-%5Bbizdev%5D-%5Bisapi%5D" target="_blank">onde aconteceu falha</a>, já descartou a possibilidade de ataque cibernético ou de um evento meteorológico extremo.</p> <p class="texto">Segundo a empresa Red Eléctrica, que opera a rede elétrica espanhola, a investigação preliminar aponta para um problema de perda de geração fotovoltaica (energia solar) no sudoeste do país, que derrubou todo o sistema, segundo o jornal espanhol El País.</p> <p class="texto">Em entrevistas à imprensa portuguesa, o da operadora de energia de Portugal, a REN, João Faria Conceição, disse que o excesso de fontes de energia renovável no sistema energético espanhol é uma "ideia plausível" por trás do evento, mas "não única".</p> <p class="texto">Já o premiê da Espanha, Pedro Sánchez, rejeitou em declarações à imprensa a ideia de que o problema tenha sido causado pelas renováveis, argumentando que "a energia nuclear" também "falhou.</p> <p class="texto"><a href="https://correiobraziliense-br.amazoniaemfoco.com/portuguese/articles/c793gwnv4g4o?xtor=AL-73-%5Bpartner%5D-%5Bcorreiobraziliense.com.br%5D-%5Blink%5D-%5Bbrazil%5D-%5Bbizdev%5D-%5Bisapi%5D" target="_blank">O apagão acontece</a> justamente num momento em há um debate intenso sobre o futuro da energia nuclear na Espanha, com o governo planejando fechar as cinco usinas ainda ativas no país.</p> <p class="texto">A eletricidade na Espanha vem de várias fontes, com atuação de usinas nucleares, centrais que queimam gás, hidrelétricas, parques eólicos e solares.</p> <p class="texto">Nos últimos anos, o país vem se destacando no mundo na produção de energia renovável. Antes do incidente, a rede elétrica espanhola era abastecida principalmente por energia solar (59%) e eólica (11%).</p> <p class="texto">As primeiras indicações levam a crer que a situação na Espanha tem alguma similaridade com o apagão de 15 de agosto de 2023 no Brasil, explica Pedro Jatobá, ex-superintendente da Chesf (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco) e ex-diretor do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel).</p> <p class="texto">Vinte e cinco Estados foram atingidos pelo apagão de seis horas, justamente em razão de problemas com a intermitência da energia solar e eólica no Ceará, um dos líderes na produção desse tipo de energia.</p> <p class="texto">"Tudo indica que essa ocorrência, como na ocorrência brasileira, se iniciou com a saída de algumas fontes solares e isso provocou um efeito cascata", explica Jatobá, hoje pesquisador do FGV-Ceri (Centro de Estudos em Regulação e Infraestrutura).</p> <p class="texto">Mas como a presença de energia solar no sistema poderia contribuir para esses casos de blecaute?</p> <h2>Menos estabilidade com as renováveis?</h2> <p class="texto">O equilíbrio de um sistema elétrico se dá através do balanço entre oferta e demanda. Ou seja, é preciso gerar a mesma quantidade de energia que está sendo consumida.</p> <p class="texto">A grande questão, explica Jatobá, é que em sistemas muito extensos, feito o brasileiro ou europeu, as fontes hidroelétricas e a fonte térmica têm uma característica que ajuda a estabilidade.</p> <p class="texto">"Mecanicamente, o fato de serem máquinas muito grandes, elas têm uma certa energia associada à rotação chamada inércia. É essa energia usada naqueles microssegundos para não deixar o sistema entrar em colapso", diz Jatobá.</p> <figure><img src="https://ichef.bbci.co.uk/ace/standard/raw/sprodpb/33b7/live/93a44810-2594-11f0-88f6-794ae336edff.jpg" alt="Rede elétrica" width="3984" height="2241" /><footer>Reuters</footer> <figcaption>Autoridades ainda investigam o que teria provocado a falta de energia na Espanha e Portugal</figcaption> </figure> <p class="texto">Ou seja, esses geradores rotativos gigantes das usinas hidrelétricas, nucleares e térmicas possuem abundância de inércia acumulada em seu movimento, ajudando a estabilizar a rede elétrica quando acontecem eventos e falhas muito rápidos.</p> <p class="texto">É por isso que às vezes vemos a luz de nossa casa perder força e depois subir novamente. Isso mostra o sistema respondendo a alguma falha.</p> <p class="texto">Na segunda, a Espanha operava justamente com pouca "inércia", já que não utilizava esses tipos de fontes de energia.</p> <p class="texto">O pesquisador explica que essas novas fontes de energia intermitentes, como eólica ou solar, são acopladas ao sistema elétrico com equipamentos eletrônicos chamados inversores, que transformam a corrente contínua gerada pelos painéis de captação em corrente alternada (usada na rede e nos nossos eletrodomésticos).</p> <p class="texto">"O que está acontecendo no mundo todo, e isso já se percebeu há muito tempo, é que, quando você tem uma quantidade muito grande de fontes de geração com essa característica (ou seja interligadas através desses inversores), se você tem um balanço, uma ocorrência, eles são sensíveis e te desligam rapidamente", conta Jatobá.</p> <p class="texto">O pesquisador da FGV explica que esses inversores também demoram mais no momento de religar o sistema, fazendo com que outras fontes sejam ativadas.</p> <p class="texto">Segundo reportagem jornal espanhol El País, a Redeia, matriz da Red Eléctrica, alertou há dois meses sobre o risco de desconexões "severas" devido ao aumento das fontes renováveis.</p> <p class="texto">No relatório de 2024, a empresa apontou o fechamento de usinas convencionais de carvão, nuclear ou gás como outro fator de incerteza para o sistema elétrico.</p> <p class="texto">Após o apagão, a Espanha restabeleceu o fornecimento utilizando principalmente as usinas de ciclo combinado e as hidrelétricas.</p> <p class="texto">Aqui vale explicar que a energia com fonte hidrelétrica é considerada renovável (ela depende do fluxo de água) e limpa, mas há questionamentos sobre seus impactos ambientais superiores a usinas eólicas e fotovoltaicas, especialmente na construção de sua estrutura.</p> <p class="texto">Isso não quer dizer, porém, que devemos abrir mão dessas novas fontes renováveis, como éolica e solar.</p> <p class="texto">Pedro Jatobá explica que há máquinas chamadas geradores síncronos, "uma grande massa girante", que pode ser usada num momento desses para estabilizar o sistema.</p> <p class="texto">No Brasil, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) estuda a possibilidade de aumentar a quantidade dessas máquinas no Nordeste, região mais alimentada pelas energias solar e eólicas.</p> <figure><img src="https://ichef.bbci.co.uk/ace/standard/raw/sprodpb/bbcf/live/038862b0-2595-11f0-b26b-ab62c890638b.jpg" alt="ageiros sentados no chão" width="5346" height="3564" /><footer>EPA</footer> <figcaption>Apagão causou grandes problemas para pessoas que viajavam nos dois países</figcaption> </figure> <p class="texto">Outra opção seria mudar a "lógica dos inversores", para que eles possam se comportar como tendo inércia e ajudarem na estabilidade. "Para dar uma resposta na hora de uma pertubação e contribuam para a estabilidade ao invés de corroer a estabilidade do sistema", diz o pesquisador.</p> <p class="texto">A grande pergunta, segundo ele, é por que ninguém previu isso, especialmente numa das regiões mais ricas do planeta?</p> <p class="texto">"Talvez porque nós não tenhamos mais um planejamento, principalmente a nível de sistema, que anteveja determinadas situações. Tudo isso é muito novo", diz.</p> <p class="texto">Jatobá dá o exemplo a Finlândia, que mede seu índice de estabilidade em tempo real.</p> <p class="texto">"Acho que para chegar na nossa utopia de ter um sistema totalmente descarbonizado, nós vamos precisar avança em metodologia e tecnologia principalmente. Mas não acho que sejam metas insuperáveis. Acho que a humanidade tem plena capacidade de vencer esse desafio", conclui.</p> <h2>Efeito em Portugual</h2> <p class="texto">Se o problema foi na Espanha, por que Portugal ficou às escuras?</p> <p class="texto">O pesquisador Pedro Jatobá explica que, quando foi identificado o problema na rede espanhola, outro país vizinho, a França, se desligou do sistema interligado.</p> <p class="texto">Algo que Portugal não foi capaz de fazer porque estava totalmente conectado à Espanha.</p> <p class="texto">"Portugal estava abraçado totalmente com a Espanha quando o sistema espanhol caiu. E o país não tem um sistema robusto o suficiente para se separar e se manter estável rapidamente", diz o brasileiro.</p> <p class="texto">Em tese, Portugal não é dependente da energia da Espanha e é capaz de produzir o que consome, segundo autoridades portuguesas.</p> <p class="texto">Mas no momento na falha na Espanha, Portugal estava comprando energia do país vizinho por razões econômicas, segundo o operador português. Ou seja, os espanhóis produziam energia barata, interessante para ser adicionada à rede portuguesa. Esse intercâmbio acontece diariamente entre países da Europa continental.</p> <p class="texto">Desde o apagão, alguns políticos portugueses têm condenado o encerramento de centrais termoelétricas que produziam energia à base de carvão. Mas autoridades no assunto têm insistido que voltar com fontes mais poluidoras não é uma solução.</p> <p class="texto">Jatobá explica que o Brasil, ao contrário de Portugal, praticamente não corre risco de sofrer problemas caso ocorra apagões em países vizinhos, apesar de ter ligações com Uruguai, Argentina ou Paraguai.</p> <p class="texto">O único Estado ainda desconectado no sistema nacional é Roraima, que ainda compra energia da Venezuela e pode sofrer com oscilações no vizinho. O governo tem previsão de que, em 2026, os roraimenses estejam conectados ao restante do país.</p> <ul> <li><a href="https://correiobraziliense-br.amazoniaemfoco.com/portuguese/articles/cvgn7eyv0ngo?xtor=AL-73-%5Bpartner%5D-%5Bcorreiobraziliense.com.br%5D-%5Blink%5D-%5Bbrazil%5D-%5Bbizdev%5D-%5Bisapi%5D" target="_blank">O que se sabe sobre enorme apagão que causou caos em Portugal, Espanha e outros países da Europa</a></li> <li><a href="https://correiobraziliense-br.amazoniaemfoco.com/portuguese/articles/c793gwnv4g4o?xtor=AL-73-%5Bpartner%5D-%5Bcorreiobraziliense.com.br%5D-%5Blink%5D-%5Bbrazil%5D-%5Bbizdev%5D-%5Bisapi%5D" target="_blank">Como Portugal e Espanha enfrentaram o dia do pior apagão da região na história</a></li> <li><a href="https://correiobraziliense-br.amazoniaemfoco.com/portuguese/articles/c93g2eqgkxxo?xtor=AL-73-%5Bpartner%5D-%5Bcorreiobraziliense.com.br%5D-%5Blink%5D-%5Bbrazil%5D-%5Bbizdev%5D-%5Bisapi%5D" target="_blank">Os números que mostram magnitude dramática do apagão que afetou Espanha e Portugal</a></li> </ul> <p class="texto"><img src="https://a1.api.bbc.co.uk/hit.xiti/?s=598346&p=portuguese.articles.ce9272jne47o.page&x1=%5Burn%3Abbc%3Aoptimo%3Aasset%3Ace9272jne47o%5D&x4=%5Bpt-br%5D&x5=%5Bhttps%3A%2F%2Fcorreiobraziliense-br.amazoniaemfoco.com%2Fportuguese%2Farticles%2Fce9272jne47o%5D&x7=%5Barticle%5D&x8=%5Bsynd_nojs_ISAPI%5D&x9=%5BCulpa+da+energia+solar%3F+A+discuss%C3%A3o+em+torno+de+fontes+de+energia+renov%C3%A1vel+ap%C3%B3s+apag%C3%A3o+na+Espanha+e+em+Portugal%5D&x11=%5B2025-04-30T07%3A53%3A27.72Z%5D&x12=%5B2025-04-30T07%3A53%3A27.72Z%5D&x19=%5Bcorreiobraziliense.com.br%5D" /></p>", "isAccessibleForFree": true, "image": [ "https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2025/04/30/1200x801/1_e760bb40_2590_11f0_a9f6_7590b6dd38e9-50819907.jpg?20250430045359?20250430045359", "https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2025/04/30/1000x1000/1_e760bb40_2590_11f0_a9f6_7590b6dd38e9-50819907.jpg?20250430045359?20250430045359", "https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2025/04/30/800x600/1_e760bb40_2590_11f0_a9f6_7590b6dd38e9-50819907.jpg?20250430045359?20250430045359" ], "author": [ { "@type": "Person", "name": "Vitor Tavares - Da BBC News Brasil no Recife", "url": "/autor?termo=vitor-tavares---da-bbc-news-brasil-no-recife" } ], "publisher": { "logo": { "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fimgs2.correiobraziliense.com.br%2Famp%2Flogo_cb_json.png", "@type": "ImageObject" }, "name": "Correio Braziliense", "@type": "Organization" } }, { "@type": "Organization", "@id": "/#organization", "name": "Correio Braziliense", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "/_conteudo/logo_correo-600x60.png", "@id": "/#organizationLogo" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/correiobraziliense", "https://twitter.com/correiobraziliense.com.br", "https://instagram.com/correio.braziliense", "https://www.youtube.com/@correio.braziliense" ], "Point": { "@type": "Point", "telephone": "+556132141100", "Type": "office" } } ] } { "@context": "http://schema.org", "@graph": [{ "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Início", "url": "/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Cidades DF", "url": "/cidades-df/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Politica", "url": "/politica/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Brasil", "url": "/brasil/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Economia", "url": "/economia/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Mundo", "url": "/mundo/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Diversão e Arte", "url": "/diversao-e-arte/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Ciência e Saúde", "url": "/ciencia-e-saude/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Eu Estudante", "url": "/euestudante/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Concursos", "url": "/euestudante/concursos/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Esportes", "url": "/esportes/" } ] } 3x296h

Culpa da energia solar? A discussão em torno de fontes de energia renovável após apagão na Espanha e em Portugal 3z252v
INVESTIGAÇÃO

Culpa da energia solar? A discussão em torno de fontes de energia renovável após apagão na Espanha e em Portugal 4e463e

Nos últimos anos, a Espanha vem se destacando no mundo na produção de energia renovável. Antes do incidente, a rede elétrica espanhola era abastecida principalmente por energia solar (59%) e eólica (11%). Isso pode ter contribuído para o blecaute, segundo pesquisador. 15425l

Ainda há muitas perguntas sem respostas sobre as causas do apagão que levou caos à Península Ibérica na última segunda-feira (28/04). Mas, desde que Portugal e Espanha ficaram no escuro, os dois países têm discutido se uma falha em um sistema de energia solar espanhol estaria por trás do blecaute.

A Espanha, onde aconteceu falha, já descartou a possibilidade de ataque cibernético ou de um evento meteorológico extremo.

Segundo a empresa Red Eléctrica, que opera a rede elétrica espanhola, a investigação preliminar aponta para um problema de perda de geração fotovoltaica (energia solar) no sudoeste do país, que derrubou todo o sistema, segundo o jornal espanhol El País.

Em entrevistas à imprensa portuguesa, o da operadora de energia de Portugal, a REN, João Faria Conceição, disse que o excesso de fontes de energia renovável no sistema energético espanhol é uma "ideia plausível" por trás do evento, mas "não única".

Já o premiê da Espanha, Pedro Sánchez, rejeitou em declarações à imprensa a ideia de que o problema tenha sido causado pelas renováveis, argumentando que "a energia nuclear" também "falhou.

O apagão acontece justamente num momento em há um debate intenso sobre o futuro da energia nuclear na Espanha, com o governo planejando fechar as cinco usinas ainda ativas no país.

A eletricidade na Espanha vem de várias fontes, com atuação de usinas nucleares, centrais que queimam gás, hidrelétricas, parques eólicos e solares.

Nos últimos anos, o país vem se destacando no mundo na produção de energia renovável. Antes do incidente, a rede elétrica espanhola era abastecida principalmente por energia solar (59%) e eólica (11%).

As primeiras indicações levam a crer que a situação na Espanha tem alguma similaridade com o apagão de 15 de agosto de 2023 no Brasil, explica Pedro Jatobá, ex-superintendente da Chesf (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco) e ex-diretor do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel).

Vinte e cinco Estados foram atingidos pelo apagão de seis horas, justamente em razão de problemas com a intermitência da energia solar e eólica no Ceará, um dos líderes na produção desse tipo de energia.

"Tudo indica que essa ocorrência, como na ocorrência brasileira, se iniciou com a saída de algumas fontes solares e isso provocou um efeito cascata", explica Jatobá, hoje pesquisador do FGV-Ceri (Centro de Estudos em Regulação e Infraestrutura).

Mas como a presença de energia solar no sistema poderia contribuir para esses casos de blecaute?

Menos estabilidade com as renováveis? r2r1m

O equilíbrio de um sistema elétrico se dá através do balanço entre oferta e demanda. Ou seja, é preciso gerar a mesma quantidade de energia que está sendo consumida.

A grande questão, explica Jatobá, é que em sistemas muito extensos, feito o brasileiro ou europeu, as fontes hidroelétricas e a fonte térmica têm uma característica que ajuda a estabilidade.

"Mecanicamente, o fato de serem máquinas muito grandes, elas têm uma certa energia associada à rotação chamada inércia. É essa energia usada naqueles microssegundos para não deixar o sistema entrar em colapso", diz Jatobá.

Reuters
Autoridades ainda investigam o que teria provocado a falta de energia na Espanha e Portugal

Ou seja, esses geradores rotativos gigantes das usinas hidrelétricas, nucleares e térmicas possuem abundância de inércia acumulada em seu movimento, ajudando a estabilizar a rede elétrica quando acontecem eventos e falhas muito rápidos.

É por isso que às vezes vemos a luz de nossa casa perder força e depois subir novamente. Isso mostra o sistema respondendo a alguma falha.

Na segunda, a Espanha operava justamente com pouca "inércia", já que não utilizava esses tipos de fontes de energia.

O pesquisador explica que essas novas fontes de energia intermitentes, como eólica ou solar, são acopladas ao sistema elétrico com equipamentos eletrônicos chamados inversores, que transformam a corrente contínua gerada pelos painéis de captação em corrente alternada (usada na rede e nos nossos eletrodomésticos).

"O que está acontecendo no mundo todo, e isso já se percebeu há muito tempo, é que, quando você tem uma quantidade muito grande de fontes de geração com essa característica (ou seja interligadas através desses inversores), se você tem um balanço, uma ocorrência, eles são sensíveis e te desligam rapidamente", conta Jatobá.

O pesquisador da FGV explica que esses inversores também demoram mais no momento de religar o sistema, fazendo com que outras fontes sejam ativadas.

Segundo reportagem jornal espanhol El País, a Redeia, matriz da Red Eléctrica, alertou há dois meses sobre o risco de desconexões "severas" devido ao aumento das fontes renováveis.

No relatório de 2024, a empresa apontou o fechamento de usinas convencionais de carvão, nuclear ou gás como outro fator de incerteza para o sistema elétrico.

Após o apagão, a Espanha restabeleceu o fornecimento utilizando principalmente as usinas de ciclo combinado e as hidrelétricas.

Aqui vale explicar que a energia com fonte hidrelétrica é considerada renovável (ela depende do fluxo de água) e limpa, mas há questionamentos sobre seus impactos ambientais superiores a usinas eólicas e fotovoltaicas, especialmente na construção de sua estrutura.

Isso não quer dizer, porém, que devemos abrir mão dessas novas fontes renováveis, como éolica e solar.

Pedro Jatobá explica que há máquinas chamadas geradores síncronos, "uma grande massa girante", que pode ser usada num momento desses para estabilizar o sistema.

No Brasil, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) estuda a possibilidade de aumentar a quantidade dessas máquinas no Nordeste, região mais alimentada pelas energias solar e eólicas.

EPA
Apagão causou grandes problemas para pessoas que viajavam nos dois países

Outra opção seria mudar a "lógica dos inversores", para que eles possam se comportar como tendo inércia e ajudarem na estabilidade. "Para dar uma resposta na hora de uma pertubação e contribuam para a estabilidade ao invés de corroer a estabilidade do sistema", diz o pesquisador.

A grande pergunta, segundo ele, é por que ninguém previu isso, especialmente numa das regiões mais ricas do planeta?

"Talvez porque nós não tenhamos mais um planejamento, principalmente a nível de sistema, que anteveja determinadas situações. Tudo isso é muito novo", diz.

Jatobá dá o exemplo a Finlândia, que mede seu índice de estabilidade em tempo real.

"Acho que para chegar na nossa utopia de ter um sistema totalmente descarbonizado, nós vamos precisar avança em metodologia e tecnologia principalmente. Mas não acho que sejam metas insuperáveis. Acho que a humanidade tem plena capacidade de vencer esse desafio", conclui.

Efeito em Portugual 16310

Se o problema foi na Espanha, por que Portugal ficou às escuras?

O pesquisador Pedro Jatobá explica que, quando foi identificado o problema na rede espanhola, outro país vizinho, a França, se desligou do sistema interligado.

Algo que Portugal não foi capaz de fazer porque estava totalmente conectado à Espanha.

"Portugal estava abraçado totalmente com a Espanha quando o sistema espanhol caiu. E o país não tem um sistema robusto o suficiente para se separar e se manter estável rapidamente", diz o brasileiro.

Em tese, Portugal não é dependente da energia da Espanha e é capaz de produzir o que consome, segundo autoridades portuguesas.

Mas no momento na falha na Espanha, Portugal estava comprando energia do país vizinho por razões econômicas, segundo o operador português. Ou seja, os espanhóis produziam energia barata, interessante para ser adicionada à rede portuguesa. Esse intercâmbio acontece diariamente entre países da Europa continental.

Desde o apagão, alguns políticos portugueses têm condenado o encerramento de centrais termoelétricas que produziam energia à base de carvão. Mas autoridades no assunto têm insistido que voltar com fontes mais poluidoras não é uma solução.

Jatobá explica que o Brasil, ao contrário de Portugal, praticamente não corre risco de sofrer problemas caso ocorra apagões em países vizinhos, apesar de ter ligações com Uruguai, Argentina ou Paraguai.

O único Estado ainda desconectado no sistema nacional é Roraima, que ainda compra energia da Venezuela e pode sofrer com oscilações no vizinho. O governo tem previsão de que, em 2026, os roraimenses estejam conectados ao restante do país.

Mais Lidas 3n625k