
Quando o papa Leão XIV afirmou que a Igreja é para todos, não me pareceu apenas um gesto simbólico ou protocolar. Foi uma fala carregada de significado, que indica um compromisso que vai além de opiniões ou daquelas que ele tinha quando era bispo. Parece haver ali certa continuidade com o espírito do pontificado de Francisco — uma Igreja disposta ao diálogo, ao encontro e à escuta, próxima daqueles que sofrem e que, historicamente, foram deixados à margem, como os homossexuais. Mas é importante lembrar que o próprio ensinamento da Igreja Católica distingue o acolhimento da pessoa homossexual da aprovação de determinadas práticas. O papa possivelmente manterá essa linha: incluir sem relativizar. Leão XIV é doutor em Direito Canônico, o que revela não só profundo conhecimento, mas também um olhar naturalmente mais atento e rigoroso em relação às normas da Igreja. Ao citar Leão XIII e Santo Agostinho, reforça seu vínculo com a Tradição, e sua experiência na Congregação para os Bispos mostra que conhece bem a estrutura da Igreja e se alinha ao magistério. Por tudo isso, acredito que sua postura será moderada, propondo uma Igreja que acolhe, mas sem abrir mão das bases dogmáticas do catolicismo.
Manuele Porto Cruz é teóloga, psicóloga e mestre em Filosofia pela Universidade de Brasília (UnB). Atualmente, leciona no curso de Filosofia da Faculdade de Teologia da Arquidiocese de Brasília (Fateo)