Guerra

Ofensiva russa com 298 drones deixa 13 mortos e dezenas de feridos na Ucrânia

Maior ataque com drones desde o início do conflito atinge 12 regiões ucranianas e mata três crianças. Governo alemão exige ação do Ocidente pelo cessar-fogo. Apesar da escalada, países concluem troca recorde de prisioneiros

Mulher é resgatada dos escombros de sua casa, na região de Khmelnytsky, após a investida de 298 drones, que atingiram várias áreas da Ucrânia -  (crédito:  AFP)
Mulher é resgatada dos escombros de sua casa, na região de Khmelnytsky, após a investida de 298 drones, que atingiram várias áreas da Ucrânia - (crédito: AFP)

A Ucrânia foi alvo de novos ataques aéreos nesse domingo (25), que deixaram ao menos 13 mortos, incluindo três crianças, e feriram dezenas de pessoas. Segundo o Exército ucraniano, a Rússia lançou 298 drones e dezenas de mísseis durante a madrugada, configurando o maior bombardeio com drones desde o início da invasão, há mais de três anos. O ataque atingiu 12 regiões do país, com relatos de destruição em áreas residenciais e pânico entre a população.

A Força Aérea da Ucrânia afirmou ter interceptado 266 drones e 45 mísseis. Mesmo assim, os danos se espalharam por cidades como Kiev, Mykolaiv, Khmelnytskyi e Zhytomyr. Em resposta, drones ucranianos também foram lançados contra Moscou, levando ao fechamento temporário de quatro aeroportos da capital russa, incluindo o Sheremetyevo, principal terminal aéreo do país. As operações foram retomadas ao longo da manhã.

A nova onda de ataques ocorreu poucas horas antes da conclusão da maior troca de prisioneiros entre os dois países desde o início do conflito. Apesar da escalada da violência, Rússia e Ucrânia concluíram neste domingo a última etapa do acordo fechado em Istambul, que previa a liberação de mil prisioneiros de cada lado. O Ministério da Defesa da Rússia confirmou que 303 soldados russos foram trocados por 303 militares ucranianos. As libertações anteriores ocorreram na sexta-feira (270 soldados e 120 civis de cada lado) e no sábado (307 prisioneiros de cada lado).

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, reagiu aos bombardeios com críticas contundentes à comunidade internacional. Ele pediu ações concretas contra as "fragilidades da economia russa" e apelou aos Estados Unidos, à União Europeia e aos países aliados para que exerçam mais pressão sobre Moscou. "Sem uma pressão realmente forte sobre as autoridades russas, a brutalidade não pode ser detida. As sanções certamente ajudarão", disse Zelensky. Ele acrescentou que o presidente russo, Vladimir Putin, precisa ser forçado a "terminar a guerra".

O apelo encontrou eco na diplomacia europeia. A chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, afirmou que os ataques evidenciam a intenção de Moscou de ampliar o sofrimento na Ucrânia. "É horrível ver crianças entre as vítimas inocentes feridas e assassinadas. Os ataques da noite ada mostram mais uma vez que a Rússia está decidida a aniquilar a Ucrânia", declarou em publicação na rede X.

O governo alemão também condenou a ofensiva. "Devemos estar determinados. Não podemos aceitar isso", disse o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Johann Wadephul, em entrevista à emissora ARD. Ele também afirmou que os ataques são uma afronta até mesmo "contra o presidente americano, Donald Trump, que tanto tem feito para levar Putin à mesa de negociações".

"Terror absoluto"

A dimensão da tragédia foi evidenciada pelos relatos das vítimas. Em Kiev, os serviços de emergência descreveram a noite como um "terror absoluto". Quatro pessoas morreram e outras 16 ficaram feridas na região da capital, entre elas três crianças. Na localidade de Markhalivka, ao sudoeste de Kiev, casas foram destruídas por explosões. "Vimos que toda a rua estava em chamas", contou à -Presse a aposentada Tetiana Yankovska, 65 anos, que sobreviveu ao ataque. "O pior é que havia destroços no travesseiro da cama onde uma criança deveria dormir", acrescentou. Tetiana já havia fugido da cidade de Avdiivka, atualmente sob controle russo, no leste da Ucrânia.

 This handout photograph taken and released by Ukrainian State Emergency Service Press Service on May 25, 2025 shows rescuers operating on a destroyed private house following Russian strike in Zhytomyr Region, amid Russian invasion in Ukraine. Russian strikes killed at least 12 people in Ukraine overnight into May 25, 2025, officials said, as Kyiv and Moscow traded fire amid an ongoing major prisoner swap. Ukraine's emergency services described a night of "terror" as Russia launched a second straight night of massive air strikes on Ukraine, including on the capital Kyiv. (Photo by Handout / Ukrainian State Emergency Service Press Service / AFP) / RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT "AFP PHOTO /  Ukrainian State Emergency Service Press Service" - HANDOUT - NO MARKETING NO ADVERTISING CAMPAIGNS - DISTRIBUTED AS A SERVICE TO CLIENTS
Resgate busca sobreviventes em meio aos detroços (foto: AFP)

Outro morador da região, Oleksander, 64 anos, também escapou dos bombardeios. "Não precisamos de negociações, e sim de armas, muitas armas, para contê-los. A Rússia só entende a força, nada mais", declarou.

Na região de Mykolaiv, no sul do país, um homem foi encontrado morto após ataque com drone. Em Khmelnytskyi, no oeste, quatro pessoas morreram e cinco ficaram feridas. Três menores de idade — de 8, 12 e 17 anos — perderam a vida em bombardeio na região de Zhytomyr, ao noroeste. Segundo Zelensky, os "ataques deliberados contra cidades comuns" visaram 12 regiões.

Em Moscou, o prefeito Sergey Sobyanin confirmou que mais de 10 drones ucranianos chegaram à capital russa, sem deixar vítimas. A aviação civil impôs restrições temporárias aos aeroportos, mas os voos foram retomados poucas horas depois.

Apesar do agravamento da situação, a troca de prisioneiros e de corpos de militares mortos em combate continua sendo um dos poucos canais de cooperação entre os dois países. O chanceler russo, Sergey Lavrov, afirmou na sexta-feira que Moscou está finalizando um documento com "as condições de um acordo duradouro, global e de longo prazo" para encerrar o conflito. O texto seria enviado a Kiev após o encerramento da troca de prisioneiros.

O conflito, iniciado em fevereiro de 2022, já provocou dezenas de milhares de mortes e o deslocamento de milhões de pessoas. A Rússia ocupa atualmente quase 20% do território ucraniano.

Bombardeios em Gaza matam 38 pessoas

Pelo menos 38 pessoas morreram nesse fim de semana em novos bombardeios israelenses na Faixa de Gaza, segundo a Defesa Civil local. Entre as vítimas estão uma mulher grávida, várias crianças e dois funcionários do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). A intensificação da ofensiva militar provocou reação internacional: representantes de 20 países e organismos multilaterais se reuniram ontem, em Madri, para pedir o fim da guerra e discutir possíveis sanções contra Israel.

Ataques aéreos israelenses deixaram mortos e feridos na Faixa de Gaza
Em Jabaliya, no norte, sete pessoas de uma mesma família morreram (foto: Bashar TALEB / AFP)

De acordo com a Defesa Civil de Gaza, os ataques atingiram diversas áreas do território. Em Jabaliya, ao norte, sete pessoas de uma mesma família morreram, algumas com os corpos carbonizados. Outras cinco pessoas, da mesma família, morreram em Deir al-Balah, no centro. Três pessoas morreram em Beit Lahia, também ao norte, e outras três na região de Khan Yunis, ao sul. Em Nuseirat, no centro do território, um bombardeio matou uma mulher grávida e seu marido; os médicos tentaram salvar o feto, sem sucesso. Também em Nuseirat, um casal morreu — o homem era diretor da Defesa Civil, Ashraf Abu Nar.

O CICV confirmou a morte de dois funcionários em Khan Yunis, no sábado (24), após um ataque contra a residência onde estavam. Ibrahim Eid era especialista em contaminação por munições, e Ahmad Abu Hilal trabalhava como segurança no hospital de campanha da Cruz Vermelha em Rafah. "Estamos devastados", declarou a organização, que voltou a pedir proteção para civis em Gaza e denunciou o "número intolerável de mortes".

O Exército israelense não comentou os bombardeios. As operações foram retomadas em março, após o rompimento de uma trégua de dois meses. Desde então, Gaza enfrenta um bloqueio total, com escassez de alimentos, água, combustível e medicamentos. De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, mais de 53.900 palestinos já morreram — a maioria civis. A ONU considera os dados confiáveis.

O conflito foi desencadeado pelo ataque do Hamas ao sul de Israel, em 7 de outubro de 2023, que deixou 1.218 mortos. Na ocasião, 251 pessoas foram sequestradas; 57 continuam em cativeiro e, dessas, 34 foram declaradas mortas pelo Exército israelense.

A reunião em Madri contou com representantes de países europeus, árabes e do Brasil. O ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, classificou a guerra como "desumana" e "sem sentido" e defendeu a entrada irrestrita de ajuda humanitária em Gaza. "Devemos considerar sanções. É preciso fazer tudo para interromper esta guerra", afirmou. Também participaram França, Reino Unido, Alemanha, Itália, Egito, Jordânia, Arábia Saudita, Turquia, Marrocos, Noruega, Islândia, Irlanda, Eslovênia, além de representantes da Liga Árabe e da Organização de Cooperação Islâmica.

 

Por AFP
postado em 26/05/2025 06:00
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