Guerra na Ucrânia

Segunda maior cidade da Ucrânia sofre ataque massivo de drones

Segundo o prefeito Igor Terekhov, todos os alvos eram civis, incluindo uma ferrovia usada por crianças: "Isso é um puro terror contra a população civil"

Bombeiro luta contra as chamas em usina atingida em Kharkiv  -  (crédito: Sergey Bobok/AFP)
Bombeiro luta contra as chamas em usina atingida em Kharkiv - (crédito: Sergey Bobok/AFP)

Kharkiv (nordeste), a segunda maior cidade da Ucrânia, com 1,3 milhão de habitantes, sofreu um ataque massivo de drones, seguido de uma ofensiva com bombas planadoras guiadas por precisão. Em entrevista ao Correio, o prefeito Igor Terekhov (leia Três perguntas para) contou que Kharkiv nunca tinha visto bombardeios tão intensos desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2023.

"Entre 3h e 5h da madrugada (entre 21h e 23h de sexta-feira, pelo horário de Brasília), o inimigo lançou 38 drones, quatro bombas planadoras e dois mísseis contra nós. Mais de 70 prédios foram danificados; três civis, assassinados; e cerca de 20 feridos. À noite, houve novo ataque com as bombas, matando uma pessoa e ferindo 40", afirmou.

Segundo o prefeito, todos os alvos eram civis, incluindo uma ferrovia usada por crianças. "Isso é um puro terror contra a população civil", denunciou Terekhov. A escalada de ataques colocou em xeque a troca de prisioneiros acordada durante negociações em Istambul.

O principal negociador russo, Vladimir Medinski, acusou a Ucrânia de ter adiado "inesperadamente a recepção dos corpos" dos soldados "e a troca de prisioneiros de guerra para uma data indeterminada". A Ucrânia rebateu as acusações e afirmou que não houve nenhuma data estabelecida para a devolução dos corpos, além de indicar um "jogo sujo" e "manipulações" do Kremlin.

Na segunda-feira, sob mediação da Turquia, as partes concordaram com a libertação de mil prisioneiros de guerra feridos e doentes, além de militares com menos de 25 anos, e da troca de 12 mil corpos de soldados mortos em combates — 6 mil de cada lado. 

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, classificou a ofensiva russa de "massacre brutal". "Bombas foram lançadas sobre civis na cidade — há até uma ferrovia infantil na área. Isso não faz sentido militar, é terrorismo puro", declarou em seu perfil na rede social X. "Isso tem ocorrido por mais de três anos em uma guerra em larga escala. Isso não pode ser ignorado, não se trata de um jogo. Todos os dias, perdemos nosso povo apenas porque a Rússia sente que pode agir de forma impune. A Rússia precisa ser firmemente forçada à paz."

De acordo com Petro Burkovsky, analista da Fundação de Iniciativas Democráticas Ilko Kucheriv (em Kiev), as bombas planadoras teleguiadas da Rússia usadas contra Kharkiv são explosivos acoplados a estruturas semelhantes a asas e a um GPS. "Os aviões podem lançá-las até 50km ou 70km do alvo, a fim de se desvencilharem de nosso sistema de defesa antiaérea. Ao realizar tais ataques, a Rússia quer mostrar que planeja transformar cidades, como Kharkiv, em ruínas", explicou ao Correio.

"Trata-se de uma guerra de intimidação, dirigida a quebrar o ímpeto da resistência. Isso é o que (Vladimir) Putin quer: exaurir os civis ucranianos e colocá-los em situação de desespero e de frustração. O mesmo objetivo é perseguido quando Moscou anuncia a troca de prisioneiros e, depois, a cancela. Eles jogam com as expectativas das pessoas. Muitas famílias na Ucrânia aguardam essa troca de prisioneiros", acrescentou Burkovsky. 

Três perguntas para Igor Terekhov, prefeito de Kharkiv

Depois do ataque deste sábado, qual é o ânimo dos moradores de Kharkiv?

O humor em Kharkiv entre os cidadãos está normal. A nossa cidade não pode ser quebrada. As pessoas entendem quem é o inimigo e que precisam manter a coesão, a fim de lutarem pela vitória.

A infraestrutura civil foi afetada pelos últimos bombardeios?

A situação de todos os serviços públicos na cidade segue inalterada. Os 1,3 milhão de moradores têm o ao abastecimento de água e à eletricidade.

Desde o início da guerra, Kharkiv tem sido alvo frequente?

Kharkiv tem sido bombardeada diariamente pelo quarto ano da invasão em larga escala. Durante esse período, mais de 9 mil prédios da cidade foram danificados de uma forma ou outra. Muitos deles estão irreparáveis. (RC)

 

 

postado em 08/06/2025 05:50
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