
Com o advento das redes socais, diversas vertentes da comunicação humana foram afetadas. Agora, as mensagens ganharam um tom mais extremo, quase como um grito no feed das plataformas. De certa forma, o que é tão importante não é necessariamente o conteúdo, mas sim ser ouvido — mesmo que sem ter o que falar. Uma das áreas sociais afetadas por essa nova "forma de comunicação" é a política, onde querer aparecer, às vezes, parece ser a única coisa que importa. Mas não se engane: existe muita política além dos likes.
Não considero-me o maior conhecedor de política. Convivo todos os dias com colegas que têm mais domínio sobre o tema. Não obstante, viver no Distrito Federal e trabalhar com o jornalismo traz uma singular relação com o tema. Às vezes, você nem está procurando, mas o assunto "política" chega até você.
Durante essa última semana, o ano Legislativo ganhou o pontapé inicial e uma verdadeira epifania me acertou: existe uma poderosa política silenciosa no país. Tão acostumado com os virais e entrevistas polêmicas, percebi que muitos (a grande maioria) dos 513 deputados no parlamento brasileiro atualmente vivem no "anonimato" — e são importantes dessa forma.
Existe uma parcela de políticos que preza pela articulação. A palavra nada significa do que o ato de costurar acordos e decisões.
Pode parecer estranho, mas eles existem, os políticos silenciosos. Deputados que vagam pelos corredores do Congresso, por refeições em residências oficiais, ou por diversos grupos de WhatsApp. Tudo em busca de agradar ambas as partes em um acordo.
É engraçado pensar nisso porque, enquanto nas redes sociais, a regra é escolher um polo político e gritar muito contra o lado oposto, dentro do Congresso Nacional, nos bastidores, a regra é contrária: ouvir todos os lados é a melhor estratégia para uma boa negociação.
Importante pontuar que nenhum cenário é mais importante que o outro. Os políticos mais afeitos a redes sociais e a podcasts sensacionalistas, e os que postam uma vez por semana não se excluem, pelo contrário, completam-se. Um não sobreviveria sem o outro, é uma estranha simbiose de poder.
Não acho que isso seja um caso atípico, ou errado, é só a forma como a política brasileira (e talvez mundial) se organizou: alguns falam, outros — silenciosamente — negociam. A política é um meio profundamente social, e a ponderação faz parte das pessoas (mesmo não parecendo). Antes de curtir ou comentar no post do próximo deputado celebridade, lembre-se disso: muitos outros estão por trás da polêmica da vez, mas além dos likes.