
João Pessoa, capital da Paraíba, uma das cidades mais antigas do país, entrou na prateleira das grandes operadoras de turismo, o que tem gerado a oportunidade de que viajantes conheçam bem a região, que conta com atrativos para todos os gostos.
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Alguns querem praia sossegada e conhecer o trecho de areia que divide o mar em dois — no local que ficou conhecido como caminho de Moisés. Também há quem busque uma praia de naturismo, onde a nudez é obrigatória. Quem se interessa por história encontra igrejas, templos, prédios tombados e monumentos que testemunham o ado do Brasil e reivindicam correções históricas sobre o descobrimento do país.
A arte e os sabores da região orgulham quem é de lá e envolvem os que visitam. Comidas típicas, produzidas com insumos que vêm do mar e das árvores, reverenciam a natureza e apresentam sabores únicos. Cajá ou a mangaba podem ser retirados direto do pé em alguns pontos da cidade, especialmente na zona rural no litoral norte. Na beira da estrada, é possível encontrar gente que acumula as frutas em sacolas para vender nas feiras ou levar para casa.
Já os frutos do mar garantem degustação de alimentos frescos com sabores fortes para quem aprecia. Restaurantes especializados apresentam cardápios variados com preços íveis, a depender do estilo e do desejo do cliente. Pratos, como peixada com camarões, agulhinha frita, camarão frito ao alho e óleo, bolinho de peixe e caranguejo, podem ser encontrados em restaurantes à beira-mar; já os mais requintados incluem massas e risotos com polvo. Paçoca de carne seca, tapioca e queijo coalho também são sabores locais facilmente encontrados em restaurantes típicos.
Localização privilegiada
Outro ponto que estimula a presença dos turistas é a localização de João Pessoa. Ao norte, Natal está a menos de duas horas de distância, sendo possível viajar de carro em boa parte do trajeto à beira-mar. Ao sul, a capital pernambucana se distancia apenas 130 quilômetros. Isso favorece os turistas que buscam fazer grandes programações pelo Nordeste.
Foi essa posição geográfica que levou à Praia de Coqueirinho os manauaras Rafaela Botelho, advogada; Aldenir Barbosa, publicitário; e Carol de Carli, arquiteta. Eles estavam em Natal e ouviram a dica de uma amiga para dar uma 'pulinho' em João Pessoa e conhecer algumas praias. Seguiram o conselho e se encantaram com o que viram.
"Eu gosto da sombra, do mar quentinho e calmo", afirmou Rafaela. O companheiro dela, Aldenir, completou que em comparação com São Miguel do Gostoso, onde estiveram antes, a diferença é grande. O município no Rio Grande do Norte é conhecido pelos fortes ventos, que favorecem a prática de esportes como kitesurf e windsurf. Já a Praia de Coqueirinho é famosa justamente pelo oposto. "Foi o mar mais tranquilo que a gente encontrou até agora", afirmou Aldenir.
O publicitário também revelou que o pouco que viu despertou interesse em retornar para visitar e concluir planos ainda mais ambiciosos. "Como ficamos só três dias, nossa intenção é retornar com mais tempo para conhecer melhor. A gente tem, inclusive, intenção de morar aqui", projetou Aldenir.
Quem também visitou João Pessoa em 2025 foi um grupo de amigos do Acre. Diferentemente dos manauaras que estiveram em João Pessoa pela primeira vez, o grupo conheceu a capital paraibana há mais de 10 anos e retorna sempre que possível. Os empresários Mário Sérgio, companheiro de Regiane Félix; e Carlos Augusto, esposo de Aldenice Silva, estiveram na Paraíba em 2013, retornaram em 2022 e agora, em 2025, incluíram João Pessoa no roteiro de férias mais uma vez.
O grupo destaca que a posição geográfica da cidade é um ponto positivo para ser um dos principais destinos no Nordeste brasileiro. "Está muito próxima de Recife e de Natal, não fica tão longe de Fortaleza", comentou Mário Sérgio. Em cada visita, o grupo realiza eios diferentes. Quando encontrei os casais, eles estavam em um mirante, no alto de uma falésia, entre o Castelo da Princesa e a Praia de
Coqueirinho. Acompanhados de um guia, traçaram um itinerário diferente da viagem anterior e puderam apreciar belezas desconhecidas até então.
Castelo da Princesa
O Pico ou Mirante Castelo da Princesa é uma formação rochosa criada a partir de um longo processo de erosão nas coloridas falésias. O processo natural forma uma figura singular no horizonte paraibano, no município de Conde. O mirante atrai visitantes que observam a obra da natureza e podem aproveitar para
adquirir licores e outras bebidas tradicionais produzidas artesanalmente e vendidas em um pequeno estabelecimento comercial à beira do penhasco.
Centro histórico
O Centro Histórico de João Pessoa é um atrativo à parte. A cidade, que já teve cinco nomes, Nossa Senhora das Neves, Felipéia, Frederikstadt, Parahyba do Norte e, finalmente, João Pessoa, tem muita história para contar. Do tráfico do pau-Brasil até a ocupação dos holandeses, os edifícios históricos demonstram a arquitetura da época e detalham o poder dos proprietários a partir da quantidade de beiras dos telhados. Ovos dispostos acima dos parapeitos também apresentam a importância dos moradores do local. O Centro Cultural São Francisco merece destaque, pois é um dos mais importantes monumentos da arquitetura barroca na América Latina.
Ponta do Seixas
É a parte mais oriental do Brasil e, por isso, recebe a luz do nascer do Sol antes de qualquer outro lugar do país. Uma praia no local é atrativo para quem quer apreciar a chegada do dia. O local fica a poucos quilômetros do centro da capital João Pessoa, perto da Praia de Cabo Branco, o que possibilita uma caminhada entre os espaços.
Saiba Mais
Como uma cidade de 439 anos voltou à moda?
O fortalecimento dos serviços que envolvem o setor do turismo e da rede hoteleira gerou segurança para o viajante e fez com que muita gente que vive em João Pessoa mudasse os rumos da vida para atender os turistas. Atualmente, 17 mil leitos estão disponíveis na rede hoteleira para os viajantes em diversas faixas de preço.
"Eu era marceneiro com meu irmão e tinha o buggy para levar alguns turistas aos fins de semana. Agora, criamos a cooperativa de bugueiros, fechei a marcenaria e trabalho levando turistas para as praias praticamente todos os dias da semana", disse o motorista que nos levou à Praia do Coqueirinho, com uma parada para ver o mirante Castelo da Princesa.
Profissionais como motoristas de buggy, guias, funcionários da rede hoteleira e gastronômica fizeram a Paraíba conquistar cifras inéditas, nunca alcançadas no setor do turismo desde o início da série histórica, e desenvolver um fluxo econômico de crescimento acima da média nacional. Dados fornecidos pelo governo do estado ao Correio apontam que, em 2024, o turismo da Paraíba movimentou R$ 917,9 milhões, alcançando o maior faturamento desde o início do monitoramento pela Federação do Comércio de São Paulo (Fecomércio-SP), em 2019. O crescimento anual do setor foi de 4,6% acima da média brasileira.
"Paraíba está na moda. João Pessoa virou a queridinha do Brasil. E tudo isso não aconteceu do nada. Desde 2023, o governo do estado vem fazendo investimentos pesados para mostrar o que a Paraíba oferece — e não apenas João Pessoa. O estado entrou na prateleira das grandes operadoras", falou ao Correio o presidente da empresa de promoção turística da Paraíba, Ferdinando Lucena.
Ele detalha que o trabalho de promoção do turismo para grandes players mundiais do segmento fez com que as belezas e os atrativos da região fossem amplamente divulgados, oferecidos por agências de viagens e companhias de turismo com preços competitivos e atrativos. "Paraíba é uma joia rara que conseguiu ultraar barreiras importantes e, por conta desse trabalho, hoje todo mundo quer conhecer. Em relação a atrativos, experiências, povos originários, áreas serranas, climas com baixas temperaturas, sertão exuberante, lajedos, tanto no cariri quanto no sertão do estado, e uma das maiores festividades juninas do país, o São João de Campina Grande", detalhou.
Forró e piseiro
O São João de Campina Grande — considerado o maior São João do mundo — reúne, anualmente, milhares de pessoas no Parque do Povo, no município de Campina Grande, que fica a pouco mais de 120 quilômetros da capital. Este ano, o evento vai reforçar a vocação do estado pelo artesanato. O espaço foi montado formando uma vila com casinhas, um túnel de chita e fuxicos ligando os espaços. O São João da Campina Grande de 2025, começou na sexta-feira e segue até 30 de junho. Entre as atrações estão grandes nomes do forró e do piseiro, como Walkyria Santos, Mari Fernandez, Luan Santana, Belo e João Gomes. As quadrilhas juninas, claro, também estarão presentes em todas as noites de festa.
Riqueza gastronômica
Canoas Praia Restaurante
O Canoas Praia Restaurante fica no extremo norte de Lucena e oferece pratos variados de frutos do mar a valores íveis para comer com o pé na areia. A posição do restaurante permite que os visitantes façam o pedido e esperem o preparo tomando banho de mar. Melhor pedida para um dia de sol e calor não há.
Para chegar a Lucena, é necessário fazer a travessia em uma balsa que liga João Pessoa ao litoral norte. Na região fica localizado o Caminho de Moisés, faixa de areia que divide o mar e pode ser observado em dias de maré baixa.
Mangai
O restaurante Mangai, famoso em várias cidades brasileiras — inclusive em Brasília —, nasceu em João Pessoa. O nome do restaurante se refere a uma expressão largamente utilizada no interior da Paraíba que significa 'feira' ou lugar onde se encontra de tudo. Pois o nome faz total sentido para o restaurante. Em João Pessoa, a casa tem opções de bufê com dezenas de variedades de comidas quentes, doces e salgadas; além da possibilidade de pedidos à la carte. Pelas paredes, frutas, como banana e abacaxi, ficam penduradas, dando o ar de feira e frescor ao local. Comida bonita, saborosa e tradicional. A cara do Nordeste estampada no resto do país.
Riqueza histórica
Em uma cidade com tantas possibilidades, ter um profissional que oriente e ajude a identificar as melhores rotas pode ser essencial para aproveitar a viagem e conhecer cada joia escondida. Foi o guia Clerisante Martins, conhecido como Neto, que nos levou para conhecer praias, mirantes e templos que contam a história de João Pessoa e do país.
Depois de atravessar o Rio Paraíba em uma balsa, cruzar uma das maiores plantações de coqueiro do Brasil e ar por um extenso canavial em plena época de colheita, entramos em uma área de preservação ambiental para conhecer as ruínas da histórica igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso. Olhando de perto, há atraentes detalhes em cada centímetro de parede com gravuras entalhadas consumidas pelo tempo.
O prédio, já sem telhado, janelas ou portas, é sustentado por uma enorme gameleira que abraça a coluna direita da construção, datada de 1789. Conta-se que a igreja foi construída por um fazendeiro que queria catequizar os indígenas locais. Ele também teria pedido que fosse enterrado no local. O único desejo realizado foi o do sepultamento. A igreja, de pé até os tempos atuais, reflete a resistência e a força ancestral da natureza e dos povos tradicionais que, mesmo diante da ambição, não sucumbem.
A Paraíba é sinônimo de força e abriga — até os tempos atuais — quatro etnias de povos indígenas: os Tambaba, os Cariri, os Potiguara e os Tarairiús. Esses povos ofereceram grande resistência diante dos colonizadores e tornaram o processo de intrusão dos europeus mais lento na região. Segundo o IBGE, cerca de 23 mil indígenas vivem no estado, e parte desse grupo reside em aldeias ou comunidades facilmente identificadas por placas às margens das estradas. Algumas, inclusive perto de praias famosas, como Tambaba e Coqueirinho.
João Pessoa acolhe vários interesses e gostos e estimula as melhores sensações. Com o aumento da busca dos turistas pela cidade, a capital da Paraíba entrou na lista das cidades mais desejadas pelos viajantes em 2025. A pesquisa anual Previsões de Viagem, da Booking.com, aponta que mais da metade das pessoas buscam destinos menos lotados e locais com temperaturas mais altas. "João Pessoa é a bola da vez", comentou o guia.
* A repórter viajou a João Pessoa a convite do Booking.com