O filme “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles ('Central do Brasil'), recebeu três indicações ao Oscar 2025, nas categorias Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz (Fernanda Torres).
A cerimônia de premiação foi no dia 2/3 em Los Angeles, e consagrou Walter Salles com a estatueta por Melhor Filme Estrangeiro, um feito inédito no Brasil. Fernanda Torres perdeu para Mikey Madison, mas só o fato de concorrer já foi uma façanha. A única atriz brasileira a disputar o Oscar, antes dela, foi sua mãe, Fernanda Montenegro, por 'Central do Brasil'.
Foi a primeira vez que um filme brasileiro recebeu uma indicação na principal categoria do Oscar, a de Melhor Filme (geral). Perdeu essa, mas ganhou na categoria de melhor filme estrangeiro. Venceu a disputa contra “A Garota da Agulha” (Dinamarca), “A Semente do Fruto Sagrado” (Alemanha), “Emilia Pérez” (França) e “Flow” (Letônia)
Na história do Oscar, o Brasil foi indicado outras quatro vezes nessa categoria, mas não conquistou a premiação - “O Pagador de Promessa” (1963), “O Quatrilho” (1996), “O Que é Isso, Companheiro?” (1998) e “Central do Brasil” (1999), este último também dirigido por Walter Salles.
A escolha de 'Ainda Estou Aqui' como o representante brasileiro na tentativa de um lugar no Oscar foi anunciada em 23/09/2024. A decisão unânime — foram 24 votantes ao todo — foi divulgada pela Academia Brasileira de Cinema.
Desde então, o filme entrou em um período de campanha para ser escolhido pela Academia de Ciências e Artes Cinematográficas de Hollywood. O longa-metragem estreou nos cinemas brasileiros no dia 7 de novembro.
Antes, no início de setembro, o filme, que é uma produção original Globoplay, estreou com momentos de emoção no Festival de Cinema de Veneza.
Os atores Selton Mello e Fernanda Torres não conseguiram conter as lágrimas com a recepção calorosa do público após a exibição do longa. Após o término da sessão, a produção brasileira foi aplaudida de pé por 10 minutos.
O filme chegou a concorrer ao cobiçado Leão de Ouro, principal prêmio do Festival, mas acabou perdendo o prêmio para 'O Quarto ao Lado', do cineasta espanhol Pedro Almodóvar. Apesar disso, o longa brasileiro levou para casa o prêmio de Melhor Roteiro do festival da cidade italiana.
No dia 5 de janeiro, Fernanda Torres conquistou o Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz de Drama, façanha inédita para uma brasileira.
'Ainda Estou Aqui' conta a história de Eunice Paiva, mãe do jornalista Marcelo Rubens Paiva, que ou 40 anos procurando a verdade sobre o marido desaparecido durante a ditadura militar brasileira (1964 - 1985).
Rubens Paiva (marido de Eunice) foi preso durante o regime militar no Brasil e teve o mandato de deputado cassado no início da década de 1970.
A história se baseia no livro homÎnimo escrito pelo jornalista Marcelo Rubens Paiva (filho de Eunice). 'Ela virou a grande militante ativista da ditadura e da redemocratização brasileira e do chamado Brasil novo', disse ele. Na trama, Eunice é vivida em fases diferentes da vida pelas atrizes Fernanda Torres e Fernanda Montenegro (foto).
O filme conta com um elenco de peso. Além das duas Fernandas, Selton Mello, Marjore Estiano, Humberto Carrão e Dan Stulbach também estrelam o longa.
O processo de realização do filme levou cerca de sete anos. O diretor Walter Salles chegou a frequentar a casa onde Rubens Paiva vivia antes de ser levado pelos militares e fez questão de conhecer sua família.
O cineasta faz pesquisa de campo para suas obras. Além de 'Ainda Estou Aqui' e 'Central do Brasil', Walter Salles dirigiu os elogiados 'Terra Estrangeira' (1995), 'Abril Despedaçado' (2001), com Rodrigo Santoro, 'Diários de Motocicleta' (2004) e 'Paris, Te Amo' (2006).
'Ainda Estou Aqui' recebeu inúmeros elogios. E Fernanda Torres ganhou reconhecimento internacional. 'Salles nunca se excede nas batidas emocionais do filme, confiando na atuação magnífica e excepcionalmente detalhada de Torres para dirigir a história', destacou o ScreenDaily.
Tema central de 'Ainda Estou Aqui', Rubens Paiva foi um engenheiro civil, empresário e político brasileiro, conhecido principalmente por sua luta contra a ditadura militar no Brasil e por ser uma das vítimas mais emblemáticas do regime.
Ele nasceu em 26 de dezembro de 1929, em Santos, no litoral de São Paulo, e desapareceu em janeiro de 1971, após ser preso por agentes da repressão.
Rubens Paiva era deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e se destacou como um dos opositores do golpe militar de 1964, que depôs o presidente João Goulart.
Com a implantação do regime militar, ele teve seu mandato cassado e foi exilado no exterior por um período. Ao retornar ao Brasil, continuou a se posicionar contra o governo militar.
Em janeiro de 1971, Paiva foi preso em sua casa no Rio de Janeiro por agentes do DOI-CODI, um órgão de repressão da ditadura.
Após sua prisão, ele desapareceu, e as autoridades nunca itiram oficialmente seu paradeiro ou destino. Anos depois, investigações apontaram que ele foi torturado e morto nas dependências militares.
Seu corpo nunca foi encontrado, e seu caso permanece como um símbolo das atrocidades cometidas durante a ditadura militar no Brasil.
Recentemente, o jornalista William Bonner revelou no programa “Altas Horas” que foi colega de classe na universidade de Marcelo Rubens Paiva, autor de “Ainda Estou Aqui”, livro que baseou o filme homônimo.
O âncora do Jornal Nacional declarou que ele e o escritor cursaram a Escola de Comunicação e Artes (ECA), da USP, no inÃcio da década de 1980. â??Frequentei a casa do Marcelo para fazer trabalhos de faculdadeâ?, contou Bonner.
Na entrevista, Bonner relatou ter conhecido Eunice Paiva, mãe de Marcelo e que é a personagem central da história de “Ainda Estou Aqui”. “O filme é incrível, quem não viu ainda deveria fazer isso quanto antes”, enalteceu o jornalista.