
A apneia do sono, distúrbio respiratório caracterizado pelo fechamento da via aérea, foi o tema do CB.Saúde — parceria entre o Correio e a TV Brasília — desta quinta-feira (1°/5), que recebeu Jorge Faber, ortodontista clínico, pesquisador e professor no programa de pós-graduação em Odontologia da Universidade de Brasília (UnB), onde ministra disciplinas de Odontologia Baseada em Evidências e Estatística. Às jornalistas Carmen Souza e Sibele Negromonte, o especialista alertou quais fatores de risco, além da obesidade, potencializam o problema, elencou as consequências de uma noite de sono maldormida e apresentou as possibilidades de tratamento.
Além do excesso de peso, o formato dos ossos também está vinculado à apneia do sono?
A obesidade é um fator importante relacionado à apneia do sono, porque o aumento do peso leva ao aumento da gordura, principalmente na língua e nas áreas laterais próximas as vias aéreas. Isso diminui o espaço reservado à agem do ar e leva à apneia. Mas existem também alterações esqueléticas da face fortemente associadas ao distúrbio, tanto que pessoas magras também podem desenvolvê-lo por conta dessas razões esqueléticas, nas quais a mandíbula, que é o maxilar superior e inferior, são mais para trás ou mais estreitos. Essa combinação faz com que o canal da via aérea fique diminuído em seu diâmetro, aumentando a facilidade dessa via obstruir.
As pessoas conseguem perceber quando têm um formato de rosto que é mais vulnerável ao desenvolvimento da apneia?
Sim, muitas pessoas conseguem identificar isso, quando têm o queixo menor do que aquilo que, talvez, elas gostariam que fosse. O músico Noel Rosa, por exemplo, é um caso extremo. Mas, nesse degradê de proporções da face, que vai de um extremo até deficiências maxilomandibulares mais sutis, é um número muito grande de pessoas. Mais de 35% da população brasileira tem, segundo alguns trabalhos, características que se aproximam disso.
O envelhecimento também é um fator de risco para a apneia?
Sim, o envelhecimento é um fator de risco por conta da diminuição de colágeno e da flacidez, que naturalmente acontecem com o ar dos anos, leva ao aumento da apneia, assim como à menopausa, visto que o estrogênio é um importante estimulador da musculatura da via aérea. Mulheres têm menos apneia do sono do que homens até a menopausa.
Existem estudos que relacionam a apneia do sono às demências, sobretudo o Alzheimer. Isso ocorre de fato?
Tanto a demência senil quanto o Alzheimer têm associação com a apneia. O paciente que é apneico e não trata (e tem Alzheimer), manifesta a doença quase uma década mais cedo do que aquele que trata. O mesmo vale para a demência senil. O tratamento é protetivo, fazendo com que as pessoas manifestem essas doenças numa idade compatível com aquelas que não têm essa condição.
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No dia a dia, também há consequências terríveis para quem não tem uma boa noite de sono e sofre com essas interrupções noturnas por várias horas, certo?
O paciente apneico classicamente relata sonolência excessiva durante o dia. É uma pessoa que dorme facilmente, até em contextos de trabalho e no trânsito, aumentando o risco de acidentes. Também há uma grande relação com a memória. Então, o indivíduo que ronca alto e está percebendo que sua memória não é mais a mesma deve procurar ajuda, porque é muito possível que essa pessoa sofra de apneia. 95% dos pacientes apneicos roncam. Essa é uma sirene de alerta importante que todos deveriam escutar.
Pelo menos um em cada três brasileiros adultos sofrem de apneia do sono. Quais as principais soluções para minimizá-la ou resolvê-la?
A apneia do sono foi descrita em 1973, mas até os anos 1980 não tinha outro tratamento que não fosse perder peso ou fazer uma traqueostomia para os casos muito graves. A partir dessa época, foi cunhada a primeira forma de tratar a apneia do sono, as cirurgias para avançar os maxilares. Nem todo mundo, no entanto, quer ou pode operar, visto que isso muda suas características faciais. No fim dos anos 1980, surgiram duas patentes importantes no tratamento do distúrbio. A primeira é o AP (dispositivo de pressão aérea contínua), uma máscara, colocada sobre o nariz, boca ou ambos, que atua como um compressor durante o sono. Então, toda vez que há um fechamento da via aérea, uma pressão positiva de ar abre-a. Nesse mesmo período, surgiram os aparelhos de avanço mandibular, colocados nos dentes superiores e inferiores para manter a mandíbula numa posição avançada durante o sono, fazendo com que o calibre da via aérea aumente e as obstruções caiam dramaticamente. Exige um processo de adaptação, mas as melhorias começam no primeiro dia de tratamento.
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